O jornalismo apaixona porque permite conhecer lugares, privar com pessoas e personagens que são inacessíveis no exercício de outra função. Ao longo de quase 40 anos como repórter – muito além de jornalista – coleciono momentos ímpares, repletos de simbologia e que encheram meu espírito de contentamento.
Trabalhei em diversos veículos de comunicação. Assessorei inúmeros políticos, prestei consultoria, ajudo amigos com sugestões, telefones úteis e dicas. Nesta rotina, na semana passada, experimentei uma sensação inédita. Por mais de uma hora estive diante da história viva da política gaúcha e do Brasil, ao conversar com o ex-senador Pedro Simon.
A simplicidade deste caxiense comove. Acostumado aos ritos boçais de candidatos à pseudocelebridades no mundo do voto, não houve tema proibido ou qualquer exigência para o diálogo. Tive a honra de integrar seu governo, como assessor do então secretário da Educação, o saudoso Bernardo de Souza, ex-prefeito de Pelotas.
Simon, aos 86 anos, esbanja energia e está perfeitamente sintonizado com tudo que diz respeito aos destinos do país. No bate-papo, atendeu ligações ao celular – fruto da minha insistência para que o fizesse – e discorreu sobre o momento político:
– Sempre bradei, das tribunas que frequentei, que o Brasil era o país da impunidade. Hoje, vejo com alegria, que isso está mudando – afirmou.
O Brasil deixa de ser o país da impunidade para entrar numa nova era de moralidade
Isso se deve aos elogios dirigidos ao juiz federal Sérgio Moro e à força-tarefa integrada por procuradores e representantes do Ministério Público e Poder Judiciário para passar o país a limpo.
– Eles são dotados de enorme coragem. Investigaram, detiveram, processaram e prenderam grandes empreiteiros, ex-governadores, empresário de todos os calibres, doleiros e todo tipo de figura nefasta à vida nacional. Sem distinção – justificou.
Além de atualizado, Pedro Simon palmilha o Estado para palestrar, filiação de correligionários ou para simplesmente esbanjar sabedoria através de uma humildade contagiante. Em seu apartamento despojado nos altos da Avenida Protásio Alves, em Porto Alegre, ele continua o cavaleiro que pregou, sem parceria, pela implantação da CPI dos Corruptores, mirando nas grandes empreiteiras.
Longe dos holofotes, o ex-senador está feliz, ativo e satisfeito. Afinal, suas advertências não foram em vão. Os frutos demoraram, mas vingaram. Graças a isso a pátria mãe gentil treme diante das delações, acordos de leniência e consciências pesadas que lesaram o erário público. Na raiz desta transformação está Pedro Simon.