Férias é como voltar à infância. Li a frase esta semana. Reflete com fidelidade o sentimento que se apossa de quem, durante todo o ano, corre atrás do sustento até a chegada do verão para relaxar, desligar e recarregar as baterias.
Recordo saudoso a infância vivida no bairro Bela Vista, onde nasci. Banhos de mangueira ou de caneca preenchiam nossas longas tardes. Nos finais de semana fazíamos piquenique junto ao rio Taquari com amigos e familiares. Íamos, cedo da manhã, de caminhão, levando toda tralha para passar o dia junto à natureza.
As bebidas eram geladas em tonéis que acondicionavam gelo, comprado em barras e coberto por serragem para retardar o derretimento. Uma churrasqueira rústica, montada com tijolos, abrigava espetos de madeira que sustentavam nacos de carne de rês e suína – de animais abatidos de maneira doméstica -, além de generosos salsichões caseiros.
Tardes maravilhosas que forjaram inúmeras amizades duradouras
O mais penoso para nós, crianças, era esperar as duas horas que separavam o almoço do primeiro banho da tarde. Meu pai, como em tudo, era rigoroso. Ignorava os reclamos da gurizada que detestava aquela soneca pós-refeição. A cada 10 minutos a gente perguntava:
– Pai… já dá pra entrar na água?
Diante da reiterada negativa restava jogar cascalhos na água, fazendo ondas e atrapalhando a pescaria e a sesta de vizinhos de beira de rio. Sem celular ou videogame eram poucas as alternativas para fazer o tempo passar.
Depois da farra vespertina dentro d’água, o último capítulo antes de levantar acampamento era partir uma enorme melancia, cuidadosamente fatiada. Este ritual exigia uma extensa preparação, quase liturgia, que antecedia ao consumo da fruta. Às vistas de nossas mães, tratava-se de alimento muito traiçoeiro se misturado ao leite, outras frutas e guloseimas.
Apesar das dificuldades e do pouco conforto eram tardes maravilhosas que forjaram inúmeras amizades e parcerias que duram uma vida. Férias são, com certeza, um retorno à infância. Uma pena que nem tudo se possa repetir nesta quadra da vida. Fiquemos, então, com as reminiscências e personagens. Ambos inesquecíveis.