“Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia. Tudo passa, tudo sempre passará…” A canção, já antiga, veio em ondas encharcando e sacudindo a paisagem bonita. Férias! O mar que tantos anos não visitava. Retornava do autoexílio de quase um ano, dedicada exclusivamente ao trabalho. Precisava resolver ainda muita coisa, mas o clima da praia lhe daria mais energia. Solitária, às vezes com alguém que conhecera nas caminhadas à beira mar. “Nada sério, os homens estão involuindo”, reclamava.
Como uma onda, outras viriam, semelhantes, mas nunca iguais. Isso a consolava. “Tudo que se vê não é igual ao que a gente viu a um segundo” e assim, preparava-se para criar o novo querer, com riscos de submergir como em outras vezes, pois evitava mudar seu padrão de exigências.
Pensava no amor como alimento e remédio, onde receita e bula são fundamentais. Sabia também que nestes casos, o receitado nem sempre dava certo e a leitura da bula, poderia provocar efeitos colaterais danosos. Quem sabe, antes do carnaval conheceria alguém interessante para um chope ao final da tarde ou um sorvete para encerar o domingo. Mas que pagasse a conta, fosse bonito e tivesse carinho e muita disposição para namorar!
Era isso ou nada! Sempre admirou mulheres de personalidade forte, que se destacam em espaços antes tipicamente masculinos. Queria espelhar-se nelas. Homem para acompanhá-la, só os que atendessem seu protótipo. Ou seja, culto, que aceite uma parceira inteligente, sem sentir-se humilhado caso ela tenha cargos, salários e projeção superiores. Só isso.
Lembrava que o seu ex, por exemplo, não admitia que ela lhe pagasse um simples lanche. Moral da história: ficaram anos sem férias, porque ele estava sempre sem dinheiro e assim, caíram na rotina. Homem deveria ser assim como, como… E não lembrou nenhum homem que servisse como exemplo.
Idealizava um hibrido de macho que concentrasse a inteligência, a fina ironia de um Woody Allen, com as feições do Giannechini, (sem aquele olhar de irmãozinho querido). Ah! E que cozinhasse como o Olivier Anquier, mas que não fosse chato.
Assim, lá se ia outro castelinho de areia, a levar sua escultura do macho perfeito. Um príncipe-sapo à beira-mar, típico de mulheres que buscam um par, como quem deseja um manequim sem figurino. Não basta escolher a trilha sonora, definir o perfil, como se existisse a perfeição em relações amorosas.
Sexy, carinhoso, com pegada, gordo, magro, milionário ou não. Qual o par do “amor eterno” para a mulher de hoje? Acredito que o ideal será sempre aquele de pés no chão e coração no compasso – anotem essa palavra – da reciprocidade. O verão logo vai passar, o outono vem com tudo pronto para andar de mãos dadas com alguém especial. Hora de revisarem metas, gurias.