As coisas boas da vida! Aonde estão? Quem escondeu? Não curto escrever sobre temas que chocam, que transmitem insegurança ou falta de uma perspectiva otimista. Mas todo o santo dia notícias ruins me assombram. Levo longos 40 minutos até chegar ao trabalho e, neste período, ouço e vejo coisas de tirar o humor de qualquer um. A insanidade coletiva de sempre, divide espaço com uma falta de educação e respeito que simplesmente vazam qualquer traço de esperança nas palavras que junto aqui e ali.
Eu não sei mais o que está acontecendo conosco. Saímos felizes para gozar férias e o que mais parece é que estamos a fugir de alguma catástrofe. Aliás, o colunista Gilberto Jasper também comentou sobre esse fenômeno. Automóveis voam nas rodovias – a maioria a caminho do mar – e muitos encerram no asfalto, abruptamente, uma temporada que deveria ser de relaxamento.
Entre segunda-feira e a tarde de quarta-feira, quando entreguei às pressas este artigo, apenas na BR 290, nos 42km que percorro diariamente até chegar ao trabalho, assisti a 12 automóveis e três caminhões envolvidos em acidentes. Neste mesmo período, no Espírito Santo, policiais cruzaram os braços, entregaram a cidade ao crime, à barbárie e aos mais baixos instintos em protesto contra as péssimas condições de trabalho. Não haveria uma forma menos radical?
Admiro o trabalho das polícias, quase sempre a margem – com salários e estruturas débeis – mas fundamentais para manter a situação sob controle, ou quase. Sem eles seria o caos. E talvez seja esse o lado positivo da paralisação. A grande mídia nos colocou imagens do óbvio, ou seja, bandidos aproveitando a greve para tomar conta das cidades. E pior, imagens de famílias, pai, mãe, filhos e vizinhos, a saquearem mercados e lojas.
Somos um povo vil, somos um povo malvado e oportunista. Não acredito mais no brasileiro gentil e humilde. Tudo está a contaminar-se com o vírus da corrupção que é muito anterior a tudo que se sucede hoje e que, hipocritamente, culpamos exclusivamente a uma elite política e empresarial. O mal se alastra com seus casuísmos e arapucas estratégicas em organizações sindicais, comunitárias e no próprio núcleo familiar.
O antropólogo Darcy Ribeiro afirmou que todos nós, brasileiros, somos “carne da carne daqueles pretos e índios supliciados” e por igual, a mão possessa que os supliciou. “A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos e a gente insensível e brutal, que também somos (…) seremos sempre servos da malignidade destilada e instalada em nós, tanto pelo sentimento da dor intencionalmente produzida para doer mais, quanto pelo exercício da brutalidade sobre homens, sobre mulheres, sobre crianças convertidas em pasto de nossa fúria”.

