A coisa mais patética dos últimos tempos foi ver o megaempresário Eike Batista embarcando no camburão da Polícia Federal com um prosaico travesseiro sob o braço. Ele, que tinha jatinhos, iates, uma Lamborghini de R$ 3 milhões na sala de casa e despachava com Presidentes da República, mas agora vive num cubículo de uma penitenciária carioca. E – o pior! – acho que o Eike roubou o travesseiro do avião porque nas imagens do embarque mostradas pela Globo ele não portava este objeto.
A imagem do travesseiro sob o braço do empreendedor que hipnotizou governantes, autoridades, empresários e jornalistas resume o momento brasileiro. Muitos juram que a Operação Lava-Jato é um breve espasmo, uma exceção que logo adiante se esvairá para que tudo volte ao “normal”.
O pagamento de propina para abrir caminhos, pavimentar atalhos e assegurar belas fotos nos jornais de destaque empresarial é conhecido de todos que transitam por Brasília. Quem já circulou pela capital ouve, há décadas, que o famoso “10%” é indispensável à abertura das portas da felicidade.
O travesseiro do Eike Batista guarda segredos de fazer estátuas de bronze corar de vergonha
O que se vê, neste momento de turbulência que abala as férias de verão, é que estes 10% são passado. Afinal, proliferam cifras de bilhões de dólares que transitaram entre o Brasil e países considerados paraísos fiscais. Um deles, a Suíça, dos deliciosos chocolates, dos relógios de alta precisão e da superada impunidade porque permitia guardar fortunas amealhadas ilegalmente.
Diante dos descalabros, o país do jeitinho se vê no espelho. Tem vergonha do que vislumbra. Todos nós somos um pouco responsáveis pela cultura do carteiraço que resultou no festival de barbaridades que culminam no Jornal Nacional. É comum buscar ajuda para passar à frente na fila de atendimento ou colocar o processo “em cima da pilha”. Ou seja, agilizar a vida através de métodos ilícitos.
O travesseiro do Eike Batista guarda segredos de arrepiar o pelo dos carecas, fazer estátuas de bronze corar. Figuras proeminentes da república recorrem a tranquilizantes, remédios para dormir. O tempo mostrou que o ex-senador Pedro Simon – que esta semana completou 87 anos – tinha razão ao pregar pela urgência de uma CPI dos Corruptores.