A situação é ruim faz tempo e piora a cada dia. A violência recheada pelo desamor é temperada por crimes hediondos, como assaltantes que pouco ou nada tomam, mas levam tudo o que temos em valores éticos, morais e de cidadania. Escrevo impactado com a notícia da morte de um jovem estudante universitário em Porto Alegre. Ele tinha 20 anos, a idade de meu filho mais novo. Era estudante universitário. Foi assassinado por um desses sem rosto, de personalidade vil, que não tiveram quem os domasse. O sujeito não levou o objeto do crime. Matou por matar.
Está mais do que na hora de revisarmos tudo o que se refere à vida em comum por aqui. Na década de 70, toda a vez em que retornava de viagens de trabalho ao centro do país – Rio de Janeiro e São Paulo, especialmente – voltava torcendo para que as coisas continuassem tranquilas em minha cidade. Tinha um aeroporto pequeno, o Laçador não chegava ao tamanho de um dedo do pé do Redentor. Nos restava o pôr do sol, lindo! Hoje percebo que a paz daqueles dias era apenas um glacê que, ao perder o sabor, revelou o recheio mofado de ódio e impunidade. Naqueles dias, estávamos à beira da falência e ainda posávamos de povo culto e politizado. Vejam a que ponto chegamos.
Nos restou um cinismo, uma hipocrisia que nos desviava o foco da desgraça que se abatia em cada bairro da Capital. Hoje, amigos tem medo de visitar Porto Alegre. Todo o lugar por aqui é inseguro. Era aqui que eu vivia em paz. Agora, não adianta trocar de lado na calçada. Lá estão eles, com suas facções, à espreita.
O crime existe desde que o mundo é mundo, mas todos nós acabamos envolvidos, sei lá, cometendo pequenos delitos, como furar uma fila, não devolver o troco que veio a mais. Isso não mata ninguém, mas relaxa o espírito ético de cada um.
Na semana passada, cruzei com alunos de uma grande escola pública de Porto Alegre que fumavam maconha abertamente. Não é moralismo, é a lei! Hoje eles fumam, amanhã morrem por dívidas com o tráfico, em vítimas da disputa pelo ponto de drogas.
É assim que a coisa degenera. É assim que elegemos políticos que achávamos perfeitos e, de uma hora para outra, descobrimos em conluios com opositores. Diálogo, negociação é muito diferente de percentuais em caixa dois. Olha como deixaram essa nação, minha cidade. Que vergonha de Porto Alegre!
A cada dia, aumenta essa vontade de fugir para um país distante para uma longa temporada ou, quem sabe, nunca mais voltar. Não é covardia, é instinto de sobrevivência. Em minha infância passei por governantes instáveis, fossem de direita, centro ou ditadores militares. E sempre sonhei com a ordem e progresso prometida na bandeira. Agora, às vésperas da aposentadoria, queria experimentar a sensação de viver em uma democracia plena, respeitável.
Mas é apenas um sonho Shakespeareano de uma noite de verão. Se continuarmos com esse sentimento de tatu, trancados em condomínios, cidades ainda tranquilas, certos de que a violência não chega, sofrerão o mesmo impacto que vivi no passado. Quando e onde menos se espera, lá estará o crime, muitas vezes a partir do coração de famílias omissas e egoístas.
Não basta alertar os filhos para não se misturar com esse tipo de gente, é preciso ajudar o teu bairro, a tua cidade a reduzir essa população que se marginaliza, muitas vezes, para atender os vícios de nossos rebentos. Isso dura, umas duas décadas, mas um dia explode, nos joga na cara o bolo com seu lindo glacê! Evitemos essa cena, por favor! Não terá a menor graça.