Sexta-feira passada, véspera de feriadão de Carnaval, fui à agência central do Banrisul, no centro de Porto Alegre. Mais de 70 pessoas estavam à minha frente quando peguei uma senha de atendimento. Ar condicionado perfeito, cadeira estofada, resolvi relaxar. Estou acostumado a demoras deste tipo, apesar das facilidades do caixa eletrônico.
Depois de meia hora uma senhora, sentada ao meu lado, me cutuca:
– Moço, pode pegar a minha senha – disse ela.
Surpreso, já que ela estava à minha frente na ordem de atendimento, perguntei se estava desistindo. E aí veio a surpresa:
– Não é isso, moço. Quando eu chego aqui pego uma senha “normal” e outra preferencial porque sou idosa. Aí eu cuido pra ver qual a fila que anda mais ligeiro pra usar – explicou.
É mais fácil apontar erros alheios que corrigir os próprios defeitos
Surpreso, refleti sobre o hábito de apontar defeitos alheios, sem minimizar nossos vícios de conduta. Todos os dias nos escandalizamos com os absurdos que envolvem desvios bilionários, negociatas e falcatruas com políticos e empresários inescrupulosos.
Ocupar vagas especiais de estacionamento – para gestantes, idosos, deficientes físicos -, usar caixas de supermercado para no máximo 10 volumes ou furar filas são hábitos já incorporados na rotina brasileira. Quem cobra honestidade nestes pequenos gestos é taxado de implicante, complicador em busca de briga. Sei disso porque costumo reclamar quando alguém usa os caixas expressos no supermercado com toneladas de mercadorias no carrinho.
Estes vícios se perpetuam porque nós – pais e mães – somos eternos modelos para nossos filhos. De nada adianta tentar ensinar através de conselhos verbais, mas na prática nosso procedimento é contrário à teoria. Detectar erros alheios é fácil, ao invés de corrigir as nossas falhas. O trânsito, talvez, seja o quesito de nosso dia a dia que mais espelha o comportamento ambíguo e equivocado.
O exemplo da idosa do Banrisul e os desvios detectados pela Operação Lava-Jato são diferentes em repercussão, mas possuem a mesma gênese: o descumprimento crônico dos preceitos básicos de convivência em sociedade.