Quando a gente chega aos 56 anos, como eu, se faz um esforço enorme para não comparar coisas iguais com tempos diferentes. Explico: quando se é “jovem há mais tempo” é comum pensar: “Bah… no meu tempo era bem diferente!”. Não é fácil! Quando somos jovens, juramos que não agir assim. Mas basta chegar aos 40/50 anos para que esta expressão fique a martelar a cabeça várias vezes por dia.
O tempo ensina que a raiva é péssima conselheira e que o bom senso está no equilíbrio. “Nem tanto ao céu, nem tanto à terra”, reza o ditado. Inúmeras coisas são bem melhores hoje que em 1960, quando nasci, no bairro Bela Vista. A expectativa de vida era menor, havia muitas doenças incuráveis e poucos recursos médicos, as comunicações eram precárias e viajar para o Exterior era coisa de rico, e ir à praia também.
Hoje a onipresença da internet justificou a expressão “aldeia global”. É possível localizar velhos amigos “dos bons tempos”, criar confrarias dos tempos da Escola São Paulo ou do Colégio São Miguel, ou da gurizada que jogava futebol no Seminário Sagrado Coração de Jesus, ou apenas fazer novos amigos do outro lado do mundo. As estradas, apesar da manutenção precária, aumentaram a possibilidade de viajar, andar de avião é algo mais democrático e pode-se estudar à distância, ampliando o conhecimento.
Resta a nós, mais experientes, orientar sempre pelo exemplo
Ao longo do tempo, a constituição familiar sofreu profundas modificações. Cada vez mais cedo os filhos ganham o mundo, deixam a casa paterna, assumem responsabilidade antes destinadas a quem tinha mais de 20 anos e conhecem o mundo precocemente. A facilidade de comunicação, porém, permitir a massificação da agressividade, graças às redes sociais. A intolerância é um vírus.
Uma sociedade somente será justa no dia que viabilizar o equilíbrio entre valores centenários e os avanços tecnológicos. Apesar da multiplicidade de novidades diárias, respeito, responsabilidade, ética, e equilíbrio são base para um mundo menos injusto, mais digno e fraterno. A solidariedade é fundamental na busca de melhorias para os desvalidos.
De pouco adianta a abundância material de uns em detrimento da miséria de nossos centros urbanos. A fome, o desemprego, a violência disseminada e a ganância roubam a esperança de um mundo que possa acolher os menos aquinhoados pela sorte. Resta a nós, mais experientes, orientar pelo exemplo. Fazer da nossa bagagem de vida referencial àqueles que nos cerca. Não importa a idade.