Quem se anima a escrever uma crônica festiva e otimista em dias tão difíceis? As delações, os desvios e as traições de toda ordem nos deixam abobalhados, presos a uma sensação única de abandono e desolação. Somos o bando de tolos que corre às urnas convictos do melhor voto, ou ao contrário, sem nenhum interesse em compromisso eleitoral. Erramos por confiar demais e também, por justificar na omissão, o voto nulo, em branco ou em qualquer número. E aí os números da corrupção nos assombram.
De qualquer maneira, a corja político-empresarial demonstrou ser rápida, muito bem estruturada e com recursos para comprar a todos. Bancou campanhas, permitiu a criação ou ilusões de fartura e nos deixou falidos, sem esperança, em um Brasil sem escrúpulos. Bilhões em reais, milhões em dólares e euros e a nossa mísera aposentadoria é – na versão demagógica do poder – a responsável pela crise.
Imagino o vácuo existencial nos homens e mulheres que perderão emprego em função da idade e, ao mesmo tempo, não estarão com tempo hábil para uma merecida aposentadoria. As distorções permanecerão, porque as corporações tem lobby forte, costas largas contra a nossa carne fraca subfaturada.
A fragilidade nos aprisiona, mas também não é determinante de que fujamos de nossa responsabilidade. Temos culpa no cartório sim, ou por nos agarrarmos em ideologias sem fiscalizar os ideólogos, ou por trocarmos a reflexão por uma alienante acomodação.
Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, seria inconfidente nos dias de hoje? Ou teria a submissão comprada? De alguma forma, foi vítima de preconceito. Ele era apenas um dentista, os demais, parceiros de revolta, homens com poder e riqueza. Morreu esquartejado (moda que hoje se repete na guerra do tráfico), enquanto seus companheiros de revolta acabaram degredados à África.
Eu sou dos tantos que ainda acredita no poder do Brasil em transformar-se em uma potência, mais responsável e unida. Antes precisa depurar esses pequenos golpes, falcatruas domésticas, privilégios que contaminam grandes projetos.
Incluir nesse processo o incentivo à cultura da justiça – dar exemplo – curar feridas e não ter vergonha das cicatrizes. Levar a experiência nefasta como exemplo aos filhos de nossos filhos, nas escolas depredadas. Falta educação, respeito e amor próprio. Sem esses elementos, será praticamente impossível atingirmos o sonho libertador de Tiradentes, de liberdade, ainda que tardia!