Tenho plena convicção de que minha maturidade veio um pouco antes dos 50. Alguma coisa me faltava além do saldo negativo no banco. Prestes a reclamar da vida, dos colegas e da esposa, percebi que tudo ali a minha volta fora minha escolha. Como poderia julgar terceiros pelas rotas que eu mesmo traçara? Ninguém me entendia? Ela não me amava mais? Ou seria eu – esse brasileiro descendente de tantos povos europeus e brasileiros – que estava a perder tempo tentando entender os outros, a lhes oferecer a leitura que jamais haviam me solicitado.
A realidade era que havia uma confusão e uma troca de cadeiras estressante em meus interiores. Olhava para trás como se meu passado, feito provérbio antigo, me condenasse, enquanto era, na verdade, o roteiro para a mudança, completo em lições, fábulas existenciais, cabeçadas na parede e a prova de que tudo pode ser mudado. E foi esse testamento que utilizei para a virada.
Amadurecer é ver o corpo perder virtudes, em troca de um espírito rico em descobertas novas em folha. Como por exemplo, de que você pode viver no presente sem as eternas recordações do tipo, eu era feliz e não sabia. Quem é feliz, sabe! Sempre!
Depois de olhar para trás e perceber as mancadas, sempre sobrará tempo para os acertos. E nesse rumo, olhar para o que incomoda de fato e dar um basta. Quando dei adeus a uma vida profissional difícil, também encerrei uma vida a dois quase próxima a um tango argentino, com letra de pagode universitário.
Sepultei os esqueletos porque aprendi a lidar com a dor dessas ausências. Um ser maduro encara o que lhe espera. Ou seja, sabe interpretar as mudanças que sempre acontecem e também, aprende a entender o que os outros pensam. A partir disso, aquela palavra dita na hora errada raramente sairá da boca de um sujeito maduro.
Sim, eu aprendi a ouvir, a respeitar o que os outros pensam, até de mim, ou de minhas atitudes. Uma amiga budista me aconselhou a meditar mais, para saber o que realmente se pensa. E quantos à minha volta são crianças de terceira idade que colocam seus conceitos como um terrorista a bombardear a paz doméstica.
Epa! Serei eu, então, um ser perfeito? Um homem maduro pronto para a santificação? Claro que não. Custou mas passei a cuidar o que digo. Toda a vez em que tropeço, em que magoo alguém, tenho o cuidado de pedir perdão sem me sentir diminuído. E se for necessário, o farei quantas vezes forem necessárias. A maturidade me faz usar a experiência como um radar que sintoniza soluções para as urgências do cotidiano.
Então, aprendam com esse cronista maduro. Larguem as arapucas da autopunição, das queixas eternas e passem a olhar o mundo permitindo-se espaço para a raiva, o choro, a tristeza. Ninguém é de ferro. Mas aprendam que a felicidade não é aquele brinquedo a quebrar-se logo adiante e sim, a experiência que busca sempre o equilíbrio. É isso aí. Como sou querido, nem vou cobrar de vocês essas dicas de autoajuda.

