Cuidado com as palavras que podem emitir conceitos pretensamente modernos, ou esconder velhos preconceitos em roupagens de gosto duvidosos. Li e curti a entrevista do publicitário Washington Olivetto, 65 anos, ao site BBC News, que lamentava uma espécie de contaminação cultural em função do estilo das mensagens publicitárias atuais.
“Pensar fora da caixa”, “quebrar paradigmas”, “desconstruir” e “empoderamento feminino”, expressões que, segundo ele, ocupam a categoria “clichês constrangedores” criados, de tempos em tempos, pela publicidade e, é claro, pela sociedade em geral. “São todos primos-irmãos do baixo nível intelectual”, tipo ‘beijo no seu coração’.
Precisamos fugir desses clichês,” alerta o genial publicitário, presidente da agência W/McCann e eleito duas vezes “Publicitário do Século” pela Associação Latino-Americana de Agências de Publicidade. É ganhador de mais de 50 Leões no Festival de Publicidade de Cannes.
Olivetto foi responsável por campanhas tipo do garoto Bombril – que ao colocar um homem a propagandear um produto de limpeza – livrava as mulheres, do clichê “escravas do lar” e ainda revelava um novo perfil de macho que sabia dar brilho sem riscar as panelas ou a masculinidade.
Estava longe do politicamente correto “bem-educado, mas chato” e mais distante ainda do politicamente incorreto, “às vezes engraçado, mas muito mal-educado”, afirma. O que o publicitário defende é o “politicamente saudável, “ideias com irreverência, senso de humor, mas respeitem a inteligência das pessoas”.
Ele afirma algo que não sabia, muitas editoras têm um personagem chamado ”leitor sensível”, um sujeito que lê os livros e detecta se tem algum trecho que vai dar problema com alguma minoria.
Nas redes sociais, a falta de tato, as postagens óbvias, os clichês com seus textos enormes sobre religião ou psicologias de botequim envoltas, às vezes, em muita grosseria, quase justificam essa leitura sensível que, no fundo, é censura.
Se é para censurar vamos direto aos preconceitos e complexos. Uma boa educação ajudaria muito. E partir disso facilitaria atingirmos o estágio do “politicamente saudável”. Eu me esforço nesse sentido. Ninguém está livre de derrapadas. Eu com temas semanais, fatias do cotidiano, posso magoar algum grupo, desse ou daquele lado, mas sempre busco o entendimento.
Portanto, desculpem qualquer deslize. Assim como a grande maioria que curte pensar, o que importa é fugir do lugar comum, do “empoderamento” de qualquer coisa que signifique um “pensar fora da caixa”, do bom gosto.