“Acho que ele é a pessoa certa”, afirmou a esposa de um amigo bem ao final de um desses raros encontros de happy hour que consigo ir. Ele concordou, como todo bom marido, e me pergunta se eu poderia ajudá-los em um evento beneficente que planejam fazer para o Natal. É claro que aceitei, não deixaria de apoiar a iniciativa. O que deveria fazer? Arrecadar donativos? Brinquedos, roupas e até balas e lanches eles tinham para a meninada e familiares. Haviam trabalhado desde o início do ano para isso. O que lhes faltava era um bom e fofo Papai Noel.
Entendi porque eu era “a pessoa certa”. Sim, eu tinha sim, o melhor perfil, não o de caráter, mas físico. Aquele gordinho bonachão, com barba de algodão, mas barriga e bochechas de verdade, faria a alegria da criançada. Respondi ao casal que dezembro era um mês difícil, mas eles insistiram. “Tens jeito com crianças”, foi o argumento deles contra minha ironia: “todo gordo é simpático, não é?”
Não consegui escapar. Até a vestimenta, vermelha e imensa, já haviam comprado. Estou a estudar essa proposta. Nem é uma questão de vaidade, ou tentativa de fugir a um evento solidário. Eu realmente tenho paciência e gosto de ver a criançada feliz, a espera de um mimo. Só que a gordura simpática de um Papai Noel, carrega uma série de riscos à saúde. E não tenho conseguido evitar as tentações do sedentarismo e da gula.
O legal seria aceitar o convite em outras condições. No peso ideal, vestindo uma roupa com enchimentos para criar o manequim “bom velhinho” que assustadoramente se apodera de meu corpo na vida real. Ao mesmo tempo, a proposta vai me garantir algum direito extra de manter o atual peso. “Para não decepcionar os amigos” e entrar confortavelmente na imensa veste vermelha.
Então, por motivos absolutamente altruístas, vou atrasar a dieta. Fazer uma manutenção do peso, o que nunca é difícil e, ao mesmo tempo, ter respostas prontas tipo, “terminada a festa para as crianças, inicio uma dieta. Opa! Mas será tempo de festas natalinas e Ano Novo. Vou deixar para 2018.”
Ouvi uma nutricionista na televisão e ela garantiu que uma dieta responsável e equilibrada deve iniciar ainda no inverno e as pessoas que se atiram a loucuras acabam doentes no meio do caminho. Eliminam poucos quilos e acumulam problemas de desnutrição. Eu não vou entrar nessa turma. Serei solidário com um projeto bacana. Distribuirei sorrisos e solidariedade até o final do ano e depois, pensarei um mudar meu perfil. No verão, quem sabe? Sem cervejas, churrascadas, batatas-fritas ou espumantes. Vida difícil!