Um grupo de astrônomos encontrou evidências de que um distante planeta teria sido “devorado” por sua estrela. Seria esse o destino da Terra, dentro de bilhões de anos? Eles também imaginam que um outro planeta que ainda gira em torno dessa estrela poderia ter sido lançado a uma órbita incomum em função da destruição do planeta vizinho. E pensei, afinal, se nosso destino é tão cruel, qual o sentido de tudo isso se construímos gerações para serem engolidas pelo Sol?
O mesmo jornal também postou foto de uma celebridade feminina a exibir lascas de seu bumbum, após o vento ter levantado o vestido. E especulavam “estaria ela sem roupa íntima?” Outro mistério! Quantos séculos levaremos para desvendar uma revelação que amanhã, não valerá mais nada, transformada em diminuta fagulha na constelação de astros do cinema ou do espaço infinito.
Bumbuns, seios fartos e gente disposta a se expor, não faltarão até o momento apocalíptico de uma colisão solar. Uns observam o sol, a natureza, as ciências, outros empunham uma máquina fotográfica para a vil missão de flagrantes pueris. E existem aqueles que se aproveitam disso para iludir os distraídos com arremedos de cultura política e social.
Entre a astrofísica e as revistas de variedades, penso que o melhor ainda é aproveitar os bilhões de anos que nos restam, focados nas coisas que realmente importam. Mas o que é verdadeiramente importante? A cultura ultraleve da vida mundana? A filosofia, a poesia dos gênios incompreendidos? A busca por lideranças terrenas que façam tudo isso valer a pena? E ainda, quem perceberá nossa ausência, após sermos engolidos pelo Sol?
À noite ao retornar para casa, abandonei essas reflexões ao perceber a lua nova, entre nuvens, como se a navegar entre estrelas. E para mim aquele momento era maior do que a visão de um bumbum carnudo de celebridade ou de teorias sobre as probabilidades de termos o planeta engolido por nossa ainda amistosa estrela solar. Guardei aquela luz como fonte para os momentos turvos.
Se um dia o planeta for tostado por uma estrela de fogo, que tenhamos então produzido o melhor, o mais digno em pensamentos e ações para justificarmos, minimamente, a instabilidade e brevidade da condição humana como a conhecemos. Aos que creem a certeza do paraíso, aos céticos, a experiência de uma existência digna. “São demais os perigos desta vida” cantou Vinicius de Moraes. E aí é que está a graça.