Sabe quando se aproveitou bem a semana encurtada por um feriado, a alma relaxada e nem parece que o país desaba em crises e, de repente, sorrateiramente, chega a tarde de domingo? E com ela, a sensação de má notícia, de uma indisposição que não tem nada a ver com a macarronada na casa de familiares. É uma névoa que invade os parques, as ruas e residências e torna os adultos mais sensíveis e as crianças ansiosas. Pode ser um entardecer perfeito, ensolarado, de chimarrão na temperatura ideal. Mas aquele sentimento de que o universo conspira contra, deixa qualquer um em alerta antidepressivo.
A síndrome da pré-segunda-feira é certeza doentia de que nada ou pouco vai mudar na rotina semanal. Apesar de todo o esforço, toda a disposição em carregar o piano da melhor maneira, haverá sempre alguém, surgido sabe-se lá da onde, para empurrar tudo abaixo. Por mais que você some dois mais dois igual a quatro, terá um sabido encastelado em sua cultura limitada a te dar alguma espetada e gritando, solene, com ar superior: “A resposta é 5?”
Sim, é nas segundas-feiras que muitas vezes confirmamos a teoria de que a felicidade terrena pertence aos medíocres, aos sociopatas, aos puxa-sacos que se alimentam da angústia alheia. Nessas horas é que nos perguntamos por onde andam aqueles que, embora arrogantes, ao menos tinham algum talento?
O noticiário matinal nos alimenta, já nas primeiras horas das segundas-feiras, de certezas instantâneas. Ouvintes exibicionistas, repórteres despreparados a trocar mensagens em redes sociais entre alguma informação e muito autoelogio. Somos o que sobra a partir disso. Somos o que escolhemos e determinamos.
Quem sabe, em algum momento de nosso passado, nos achamos muito melhor do que a média e matamos a aula que ensinaria a enfrentar a turbulência com uma estima melhor? Às vezes somos culpados por essa depressão dominical. Em tempos passados entramos em brigas que não eram nossas e saímos feridos, inseguros e teremos de mostrar a cara outra vez. Mas é assim que se amadurece.
O jogo não está perdido, eu sei. Trabalhemos então, para que as segundas-feiras não suscitem tanta ansiedade, tantos questionamentos existenciais. A maior dúvida será basicamente a de saber qual roupa vestir e como nos comportaremos diante de gente inoportuna. O cordão dos bajuladores, os incompetentes e falsos líderes, manteremos de sobreaviso. Xô, baixo astral!
Está na hora de nos prepararmos com outra disposição para as segundas, terças, quartas, quintas e sextas da realização pessoal. Os percalços, os chatos, as redefinições de rota permanecerão. Mas, principalmente, se eu amo o que eu faço para viver, e se essa atividade me permite manter um feriado tranquilo e sábados felizes, as tardes de domingo serão igualmente varandas com rede aberta e brisa leve.