O dia 5 março de 2018 vai entrar para a história de Arroio do Meio. Um acontecimento ainda no clarear da segunda-feira, agitou a cidade e a colocou no holofote de toda a mídia gaúcha. Por volta das 7h rádios, jornais, portais de notícias e emissoras de TV noticiavam que o município era alvo de uma operação da Polícia Federal, deflagrada em cinco estados com o intuito de apurar indícios de fraude na emissão de laudos que atestavam a condição sanitária de lotes de animais e produtos, ligados à empresa BRF.
À medida que a notícia se espalhava, todos queriam saber quem seria a pessoa que fora levada de forma coercitiva para prestar depoimento na Polícia Federal, em Santa Cruz do Sul e qual seria o reflexo da ação no município, já que a BRF é uma das maiores empresas de Arroio do Meio.
Ao mesmo tempo, em São José, Palmas, uma família tentava entender o que estava acontecendo. Por volta das 6h uma camionete da Polícia Federal adentrou no pátio de Everaldo Fröhlich e um delegado, acompanhado de três policiais, anunciou que tinha um mandado de busca e apreensão e um de condução coercitiva para cumprir. O agricultor, que acabara de acordar, achou tudo muito estranho, mas abriu a porta para que entrassem. “Olhei para fora e vi as luzes vermelhas piscando refletindo na janela. Abri a porta e eles pediram se era a casa do Everaldo Fröhlich. Disse que era eu e eles falaram que tinham de cumprir mandado de busca e apreensão por causa de um problema sanitário. Me pediram se eu tinha trabalhado no Paraná ou estudado Veterinária ou Zootecnia. Eu disse que nem pensar, só fiz a 6ª série e nunca fui para o Paraná”, relata o agricultor, natural de Arroio Grande e que há mais de 25 anos reside em São José, Palmas.
Everaldo diz que de início ficou assustado, mas quando disseram que era em função de uma questão sanitária se deu conta de que não tinha o que temer, pois é um homem correto e nunca sequer teve aviário ou negociou com a BRF. Os animais que mantém na propriedade são para consumo próprio e, quando há excedentes alguns são comercializados para um frigorífico. Foi instruído a acordar os demais moradores da casa e um policial o acompanhou nos quartos onde dormiam sua mãe Erna e os filhos Jéferson e Rafael. A mãe ficou muito nervosa, sem entender o que se passava. “Podem entrar e olhar tudo o que vocês quiserem, falei. Chamaram duas testemunhas, olharam tudo, não acharam nada. Aí me disseram que tinham que me levar para Santa Cruz para prestar depoimento. Como não iam me trazer de volta e o meu filho estava de férias, fomos de carro. Um policial foi com nós. Os policiais foram muito respeitosos o tempo todo”.
Em Santa Cruz do Sul, sede regional da Polícia Federal, o caso teve um desfecho hilário. Como perceberam que Everaldo tinha um histórico muito diferente do que o alvo da ação deveria ter, os policiais desconfiaram e confirmaram que o Everaldo Fröhlich envolvido na operação mora no Paraná. O Everaldo de Arroio do Meio, assim como a unidade da BRF local, não tem nada a ver com a história. “Fiquei numa sala e um policial saiu duas vezes. Quando ele voltou disse que o delegado ainda ia me comunicar, mas que eu podia ficar calmo porque o cara que estavam procurando era do Paraná e tinha liberado um lote de frangos com salmonela para o abate. Nada a ver comigo”, conta.
Ao ser comunicado pelo delegado, ouviu um pedido de desculpas e foi instruído para telefonar e acalmar a família. “A polícia fez o trabalho que tinha que fazer. Para os policiais e o delegado também é constrangedor, mas os dois mandados vieram do Paraná para eles cumprirem. Para mim foi um susto e eu não desejo isso para ninguém. Mas o bom é que no final tudo deu certo. Foi só um grande engano”. Por volta das 10h tudo já estava esclarecido e Everaldo pode voltar para casa.
Passado o choque de acordar com uma viatura da Polícia Federal na porta de casa, Everaldo ri da situação. Já concedeu entrevista para várias empresas de comunicação e recebeu inúmeros telefonemas de amigos, parentes e conhecidos. Ainda não decidiu se vai ajuizar uma ação contra os responsáveis pelo engano e o constrangimento.
Operação Trapaça
As ações desencadeadas na segunda-feira, fizeram parte da 3ª fase da Operação Carne Fraca, denominada Operação Trapaça, com o objetivo de investigar fraudes praticadas por empresas e laboratórios que tinham como finalidade burlar o Serviço de Inspeção Federal e não permitir a fiscalização eficaz do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Ainda na segunda-feira, o Mapa emitiu nota, na qual salienta que o alvo principal desta operação é a fraude nos resultados de análises laboratoriais relacionados ao grupo de bactérias Salmonella spp. O documento explica que a presença da bactéria salmonela é comum, principalmente em carne de aves, pois faz parte da flora intestinal desses animais. No entanto, quando utilizados os procedimentos adequados de preparo minimizam os riscos no consumo da salmonela, uma vez que a bactéria é destruída em altas temperaturas, como frituras e cozimento.