“A história é escrita pelos vencedores”.
A frase, de autoria de George Orwell, pseudônimo do escritor, jornalista e ensaísta britânico Arthur Blair, resume a vida que conhecemos através de livros, filmes e outras veiculações públicas. E nem sempre é a vida real.
Ao longo de quatro décadas como jornalista tive (e tenho) o privilégio de conviver com personagens públicos. A convivência, mesmo que distante, com deputados – estaduais e federais -, senadores, vereadores, prefeitos, governadores, chefes de poder em geral e lideranças de diversos segmentos, ensinou muitas lições que valem para a vida toda.
É raro que protagonistas deste tipo se portam nos bastidores como agem diante do público. O estresse, a vaidade, a necessidade de passar uma imagem simpática os torna escravos de uma dicotomia. Por isso, a rotina gera sofrimento. O detentor de um cargo público precisa “mostrar serviço”, eficiência e um desempenho condizente à expectativa que gerou a partir de sua eleição ou indicação para ocupar determinado cargo.
Pessoas acostumadas a liderar conhecem a dificuldade de ser, ao mesmo tempo, brando e enérgico. É preciso “adestrar” o tom de voz, sem hesitação ou agressividade, mas com a necessária habilidade para mostrar quem manda. Liderar um grupo de trabalho constitui exercício de autocontrole desafiador.
Redes sociais oferecem a possibilidade de conhecer a história e as pessoas como elas realmente são
Neste universo de pessoas que conheci como jornalista gravitam empresários cujo hábito de ostentação muitas vezes ofusca a capacidade administrativa ou de lidar com sócios e funcionários. Isto acontece mais a miúde em empresas familiares onde a rotina de sucessão obedece a uma máxima repetida por especialistas:
“A primeira geração brilha na coluna empresarial; a segunda na coluna social e a terceira geração brilha na coluna policial”.
É um resumo dramático, mas realista da falta de habilidade que caracteriza grandes empresários – e também políticos e celebridades em geral – no trato com subordinados e sócios/parentes, principalmente aqueles “da velha guarda”. Foram acostumados a mandar, ao invés de liderar, que são conceitos antagônicos no gerenciamento moderno de pessoal.
Ninguém é sincero em 100% do tempo porque o mundo, sem hipocrisia, seria dizimado a cada 48 horas. Mas é preciso um mínimo de coerência entre discurso e prática. As redes nem sempre sociais, tão criticadas, oferecem a possibilidade de conhecer a história como são. E as pessoas como verdadeiramente se portam na intimidade.