Dia destes um colega de trabalho resolveu fazer uma faxina, daquelas pesadas na mesa, teclado e adjacências com o uso de álcool. Instintivamente falei:
– Bah… agora só falta trazer o mimeógrafo!
Me senti fulminado com olhares de perplexidade:
– Bah… o que é isso? Uma comida? – perguntou o estagiário de plantão no alto de seus 20 e poucos anos.
Tentei explicar com paciência do que se tratava. Os poucos que entenderam minha didática explicação não acreditavam na eficiência da engenhoca que reproduzia cópias de provas que eram aplicadas nas escolas “do meu tempo”.
Foi preciso recorrer ao “amansa burro tecnológico” ou “Tio Google”, que tudo sabe, tudo registra, mas nem tudo constitui verdade. Quando bate a nostalgia destes equipamentos “do tempo do epa” visito o Brique da Redenção, tradicional ponto turístico de Porto Alegre.
Lá é possível encontrar de tudo: estojos distribuídos em voos internacionais da Varig, rádios a luz e pilha da década de 1930/1940, figurinhas de álbuns antigos, talheres seculares, roupas de época, discos de vinil de todo tipo, fitas K-7, luminárias dos mais variados etilos, selos, escudos de equipes já extintas, tampinhas de refrigerantes que já não existem, ventiladores pré-era tecnológica e todo tipo de parafernália.
Não é preciso ficar aferrado ao passado. Basta guardar belas recordações, afetos inesquecíveis
Esta viagem pelo tempo permite uma noção da rapidez das transformações. O moderno em pouco tempo deixa de ser um aparelho “do último grito”, expressão empregada para definir o que havia de mais moderno e avançado em priscas eras.
A voracidade dos avanços trouxe consigo aspectos indesejados. Vivemos a era do consumismo, do descartável. Tudo pode – e deve – ser jogado fora. Não existem mais os “cascos” ou “vasilhame”, garrafas vazias que eram trocadas por cheias em armazéns e supermercado. Costumo comprar cerveja de 600 ml em garrafas de vidro e confesso: sofro ao jogá-las no lixo depois do churrasco de domingo.
Desculpem o traço saudosista típico de um quase sessentão, mas a produção do volume sem precedentes de entulho comprova o hábito moderno de desprezar o que já foi útil para ser substituído por novos objetos e produtos.
O mimeógrafo jaz num canto. Empoeirado, enferrujado, esquecido. Não é preciso ficar aferrado ao passado. Basta guardar belas recordações, afetos inesquecíveis e momentos que ficaram tatuados para sempre em nossa alma.