Estamos a 41 dias de mais uma Copa do Mundo. Os veículos de comunicação já estão inundados de publicidade alusiva ao maior evento esportivo do planeta. As cifras são astronômicas, aquecendo a economia, desde a venda de figurinhas de álbuns até a comercialização de veículos, vendidos em séries especiais, tevês, camisetas e prêmios que incluem ingressos para os jogos da Rússia.
A Copa do Mundo remete à infância, mais precisamente à disputa de 1970, quando completei 10 anos. A tevê a cores debutava na casa dos mais abonados. Foi um momento mágico onde o futebol se transformou na minha grande paixão. À época morava na Bela Vista, junto à fábrica de bebidas Kirst & Cia. Ltda., atual Bebidas Fruki, que teve entre os fundadores meu avô, Bruno Kirst, e seu irmão, Walter.
Os jogos do Brasil eram uma confraternização familiar, somada aos vizinhos que acabaram integrando o núcleo parental, tamanha proximidade e frequência dos encontros. Pipoca, chimarrão, lautos almoços e uma infinidade de tira-gostos caseiros faziam ampliar o quórum de espectadores da disputa que se realizava no México.
Era uma época permeada de mais humanidade e parceria
Lembrar do certame mundial é mais que uma volta ao passado. É um exercício de imaginação pelas diferenças separadas por 48 anos. Uniformes, esquemas de jogo, salários, valores de publicidade e do passe dos jogadores, diferentes formas de transmissão das partidas. Tudo se alterou numa velocidade sem precedentes. É impossível prever as novidades que teremos a partir de junho.
Voltando à Copa de 70, a data marcante – além da final contra a Itália – foi 7 de junho. Eu comemorava 10 anos de idade. Havia 14 pessoas na sala de casa. O jogo, o mais difícil do campeonato, era contra a temível Inglaterra, à época campeã, título conquistado dentro de casa.
Neste jogo se registrou a maior defesa de todos os tempos. O autor da façanha, o goleiro Gordon Banks, defendeu uma cabeçada mortal do rei Pelé. O episódio rendeu manchetes mundiais. A principal: “O homem que parou o Rei”. O grito de gol ficou engasgado na garganta de 90 milhões de brasileiros à época e o goleiro, depois do jogo, pediu desculpas a Pelé.
O feito era cada vez mais marcante até o gol salvador do artilheiro Jairzinho, único jogador a marcar gol em todos os jogos numa Copa do Mundo até hoje. A comemoração quase custou o assoalho de madeira da nossa casa. Todos pulavam, se abraçavam e gritavam numa celebração entre amigos.
A vitória de 4×1 na final contra a Itália ocorreu num domingo cinzento de garoa. Conquistado o inédito tricampeonato e a posse definitiva da Copa Jules Rimet, saímos em desfile, atopetados na carroceria de um caminhão da Kirst & Cia. Ltda.
São lembranças eternizadas em nossos corações e mentes. De uma época em que tudo era mais simples, barato e permeado de mais humanidade e parceria.