Perdi meu pai há quase 30 anos. Em julho se completarão dois anos da partida da minha mãe. Às vésperas de fazer 58 anos sinto muita falta de ambos. Antes esta lacuna se fazia sentir nos momentos de crise porque a experiência e serenidade deles me confortavam. Hoje, tenho saudade dos momentos de lazer e compartilhamento familiar. Todos os dias repito frases, ditados e piadas que guardo no coração.
Como pai, sinto-me recompensado cada vez que a Laura e o Henrique dizem:
– Pai… hoje me lembrei de ti!
A sensação é de recompensa. Significa que nem tudo que falamos ou tentamos ensinar cai no esquecimento. Já referi, aqui, que um dos momentos de maior pavor da minha vida foi quando, ainda aprendendo a falar, meus filhos disseram:
– Pai, vem aqui?
“Pai” é uma palavra poderosa, assim como “mãe”. Resume uma responsabilidade imensurável, apesar da banalização. A falta de uma política de acompanhamento da natalidade no Brasil multiplicou as famílias que não dispõem das mínimas condições de oferecer o básico à sua prole, levando à desvalorização do papel materno e paterno.
Parceria é fundamental para a difícil travessia da adolescência
Quando se é pai/mãe assina-se um contrato vitalício. Sim. Aproveito este espaço para revelar aos que ainda não têm filhos que trata-se de uma atividade onde inexiste aposentadoria, nem podemos ficar “encostados no INSS”. Também não há férias, folga ou feriadão. É dedicação integral até o último suspiro.
Apesar da dura jornada vitalícia as recompensas são incríveis e se transformam em energia para superar os problemas. Valorizar as conquistas dos filhos, se fazer presente nos momentos difíceis, dar ânimo e apoio são tarefas corriqueiras que fortalecem a união familiar junto aos filhos.
Nasci na década de 60, meus filhos nos anos 90. Há um oceano de diferenças e de tempo, mas alguns princípios se mantêm intactos, mesmo na era tecnológica que devora tempo, escraviza a todos nós via internet e muitas vezes compromete relacionamentos duradouros.
Diante de tantas tentações, o desafio de ter filhos hoje me enche de pânico. Controlar o acesso a conteúdo pouco saudáveis, conhecer amigos e afetos “que fazem a cabeça da gurizada” e fiscalizar sem invadir a privacidade deles é uma tarefa tipo gincana de Arroio do Meio.
Repito aos amigos, candidatos à maternidade/paternidade: curtam cada momento em conjunto como se fosse o último, larguem laptops e smartphones, desliguem a TV ou curtam desenhos e filmes infantis. Participe de verdade da vida dos filhos ao invés do “faz de conta” que muitos adotam. Ali adiante, na adolescência, estes momentos serão fundamentais para a travessia mais difícil dos jovens.