Escrevo estas mal traçadas linhas em plena terça-feira, ou seja, há três dias.
Acordei às 6h. Chovia, ouvi trovões, vislumbrei raios cortando o céu escuro e havia muita umidade. Cheguei a pensar, no começo do dia anterior (segunda-feira) que havia um vazamento generalizado na minha casa.
Vertia água do piso, das paredes, do boxe do banheiro. Se as previsões se confirmarem, a esta hora, quando os prezados leitores se deleitarem com esta crônica, a temperatura deve lembrar os melhores dias do inverno que só começa dia 21, quinta-feira próxima.
O clima, como tudo neste Estado – a outrora Província de São Pedro – se transforma em polêmica, conhecida como “grenalização”. Calor, frio, chuva. As discussões brotam na fila do supermercado, no elevador, no posto de gasolina, na mesa de bar, basta escolher o tema, proferir uma opinião que o tsunami se precipita.
Existem várias análises a respeito desta nossa mania de transformar qualquer fato em acalorados debates. Tramitam no RS cerca de 5 milhões de processos, somente na Justiça estadual. Ou seja, sem contar as ações nas justiças eleitoral, militar e federal. Quando trabalhei no Tribunal de Justiça com frequência a discussão tornava à mesa de bar.
– Entrar na Justiça por qualquer coisa é resultado da nossa formação étnica, oriunda da presença de europeus que, dotados de educação superior à nossa, sabiam e lutavam por seus direitos – defendia uma das correntes.
A rivalidade é saudável como instrumento para fomentar o esforço de melhorar, jamais para humilhar ou debochar
Outros apregoavam nuances de outra conotação histórica, esta resultante da demarcação do território gaudério. Suscitavam a importância territorial, cercada de fronteiras com Uruguai e Argentina, fato que levou inúmeras vezes nossos Hermanos a tentar estender a cerca, mas foram rechaçados de pronto por valentes gaúchos.
Confesso que não tenho opinião formada sobre esta polêmica. Sei, apenas, que os ânimos estão muito exaltados. As brigas por motivos fúteis, a incapacidade de “se fazer de surdo” e seguir adiante é a regra quando deveria constituir exceção. Tudo é resolvido em ponta de faca, com bate-boca e uma perigosa vocação para a beligerância.
Lutar pelos direitos é uma obrigação, mas como repetia o velho Giba “o bom senso está no equilíbrio, jamais nos extremos”. Ensinar os filhos a lutar pelo certo dentro dos limites éticos impõe respeitar limites, ponderar, dialogar e, não raro, ceder ou dar um passo atrás.
A rivalidade é saudável como instrumento para fomentar o esforço para melhorar, jamais para servir de instrumento de ironias, humilhação e deboche. Um Rio Grande menos agressivo seria saudável para todos. Inclusive para o nosso Estado no trato com parceiros que vêm de outras paragens.