A esta hora, prezados leitores, o Brasil está semiparalisado à espera de mais um jogo pela Copa do Mundo. O maior torneio de futebol do planeta reflete muito do que acontece na rotina do mundo. A começar pelos avanços tecnológicos.
A vida dos árbitros de futebol foi transformada num inferno que, pelo jeito, será irreversível. Não bastassem os replays e a repetição dos lances em câmera lenta, os recursos se multiplicaram a ponto de modificar resultados, inverter faltas, provocar/reverter expulsões e mudar inúmeras decisões. Os defensores desta metodologia alegam que há redução de injustiças e erros, situação prosaicas para quem acompanha futebol há muito tempo.
Outros, mais radicais, sugerem que um robô seja colocado diante de um mosaico de monitores e, munido de um apito, anuncie suas decisões. Radicalismo à parte, quem sofre com os equívocos que são corrigidos pela tecnologia vibrou muito ao longo do torneio na Rússia. Já os falsos malandros quebraram a cara porque foram flagrados e mostrados para todo o planeta.
A Copa do Mundo serve ainda para comprovar que o poderio econômico também é preponderante no mercado da bola. Jogadores valiosíssimos, que recebem salários estratosféricos e usufruem de regalias ilimitadas tornam-se milionários de uma dia para o outro.
Não acho que torcer pelo Brasil seja alienação. Assim como “secar” não significa ser oposição
Se no dia a dia dos clubes muitas joias integram um conjunto de craques, na disputa do certame mundial, quando deparam com companheiros, isso muda. Os fora de série se veem obrigados a se municiar de paciência para aceitar as limitações de colegas de time. Nem todos os jogadores de seleções de países mais pobres atuam nos mercados milionários, como o europeu, o chinês e mais recentemente o saudita. Diante da parceria menos talentosa, sucumbem, abandonados e derrotados.
O uso da Copa para fins ideológicos, do tipo alienação, é tão antigo quando o próprio torneio. Manipulações acontecem todos os dias em quase todos os ambientes que frequentamos, embora nem sempre nos demos conta. Além disso, temos três anos e meio sem Copa do Mundo e alienação não muda. Muita gente não vota, outro contingente sequer pesquisa a ficha corrida do seu candidato escolhido e outro grupo fala mal de todos, mas se omite na hora de participar.
Portanto, na minha modesta opinião, torcer pelo Brasil na Rússia não é sinônimo de adesão ao governo que está no poder. “Secar” também não significa ser oposição. Futebol é um esporte. Ok, mobiliza bilhões de euros todos os dias, mas para nós, mortais comuns, em nada vai alterar a vida, um fracasso ou pretenso sucesso dos guris do Tite.
Assim, pipoca, cobertor e amigos/familiares em volta são inerentes ao acompanhamento dos jogos da seleção canarinho. No máximo teremos um meio feriado, uma trégua na correria do dia a dia, a partir da corridinha do nosso treinador à beira do campo.