Certas coisas que presenciamos em cidades do interior que não se vê em outros lugares. E tem coisas ainda mais específicas de Arroio do Meio que – garanto! – não existem em outras cidades.
No sábado estive na terrinha depois de vários meses de ausência. Pela manhã proferi palestra em Lajeado, no Parque Histórico, para um grupo de 20 amigos da Associação dos Profissionais de Imprensa do Vale do Taquari. A entidade é presidida pelo amigo e colega de profissão Deoli Gräff. Participaram jornalistas, assessores de imprensa de prefeituras, blogueiros e jornalistas de sites da região. E também a diretora do nosso O Alto Taquari, a empresária e jornalista Isoldi Bruxel.
Depois de um farto almoço, regado por ótima comida e muita gentileza na casa do parceiro de longa data, o radialista Renato Worm, e sua esposa Eliana, perambulei por Arroio do Meio.
Ao passar diante do Clube Esportivo ouvi uma verdadeira algazarra, sem saber direito de quem se tratava. Parei na Padaria Miriam, do meu grande amigo Eduardo “Zêzi” Führ. Depois de comprar uma cuca e barras de cereais – segundo a minha esposa, especialista no assunto, as melhores do Estado! – recebi uma ligação do amigo Enio Meneghini.
Só em Arroio do Meio é possível beber, ouvir música e não pagar um centavo de couver artístico
Ele, juntamente com o irmão, Elio, além de Jandir Scheid e Victor Kuhn, degustavam cerveja gelada depois de jogar futebol no campo do The Horse. Declinei da cerveja porque mais tarde voltaria a Porto Alegre dirigindo. Foram eles que gritaram quando passei de carro, rumo à padaria.
No meio do nosso bate-papo um anônimo (para mim) cantor aproximou-se e pediu licença para desfiar canções gaudérias.
Antes que falássemos qualquer coisa, ele logo avisou:
– Não cobro nada, nem aceito gorjeta ou qualquer tipo de pagamento… Canto porque gosto! – disparou para surpresa geral.
Uma das cantigas falava de um amor impossível onde o pai da amada era sinônimo de risco de morte. Para contar o drama musicado, o cambaleante cantor chamou a esposa. Era uma mulher atarracada, morena, que ajudou a entoar o romance com final feliz em duas vozes.
A cada duas músicas a dupla gauchesca se afastava da nossa mesa para se juntar a um grupo formado por Carlinhos Fleck e Nano Kist, entre outras carimbadas figurinhas arroio-meenses. Ali, o cantor “molhava as palavras” com generosos goles de cerveja gelada, servida em litrões.
Relato este episódio para demostrar que cada cidade possui seus personagens – pitorescos ou característicos. Eles são únicos por sua personalidade, maneira de ser e de marcar a história de nossas comunidades.
Ao me despedir rumo à capital, brinquei com os amigos dizendo que somente em Arroio do Meio é possível “tomar uma gelada” e curtir música ao vivo. E, de quebra, sem pagar couver artístico, prática usual em bares e restaurantes.