Este mês completou dois anos do falecimento da dona Gerti Jasper, minha mãe. Quando era viva fazia com que visitasse Arroio do Meio quase todos os finais de semana, sozinho ou com os filhos e esposa. Depois do infortúnio, passei a reduzir minhas vindas que se tornaram raras.
A situação me aborrece porque tenho inúmeros amigos locais pelos quais nutro grande afeição. Além disso tenho velhos colegas da Escola Luterana São Paulo, do Colégio São Miguel, do futebol de várzea, das reuniões dançantes e tantas outras experiências inesquecíveis. A força de uma mãe ou pai dentro do agrupamento familiar é incomensurável. Meu pai faleceu com 52 anos e até hoje me recupero das consequências.
A figura paterna passa por três julgamentos básicos de seus filhos, conforme a faixa etária. Quando são crianças, o pai é o nosso super herói, que nos protege, dá carinho, amparo e está sempre presente. Depois, na adolescência, se transforma em um velho superado, ranzinza, preconceituoso, que só implica e impõe restrições. Por fim, quando se atinge a idade madura, o pai é um herói à sua maneira, com defeitos, mas dotado de inúmeras qualidades e que nos ama.
A vida é pródiga em colocar pessoas especiais em nossa vida
Chegar em casa e não encontrar ao menos um dos filhos é um doloroso exercício de solidão. Eles são meu porto seguro porque me cobram, reconhecem meus esforços em dar o melhor, discutem, brigam e se reconciliam comigo. Amadurecem neste turbilhão de sentimentos que por vezes são antagônicos, contrastantes e opostos. Entender esta relação? Não! Basta aproveitar e curtir os bons momentos e fazer do desacordo ferramenta para aperfeiçoar a amizade.
A ausência da dona Gerti e do seu Gilberto doem a cada lembrança. Estão sempre presentes. Aprendi muito com eles. Sofri, me senti injustiçado várias vezes, tive orgulho, mas sempre procurei me colocar no seu lugar para não radicalizar nos julgamentos.
Espanta ver a omissão de tantos pais/mães. Ter filhos é administrar conflitos, mediar, pesar, ceder, impor quando necessário e ter humildade para pedir desculpas. Cobrar horários, falar “olho no olho”, se interessar pelos assuntos dos filhos – por mais banais que sejam! – e decorar o nome de seus amigos é parte do ideário da boa relação. Eles não admitem, mas anseiam por amor e limites nesta ordem. Limite depende do amor que leva à confiança, fundamental para fazer com que os limites sejam respeitados.
Perder pai e mãe, independentemente da idade, é um duro exercício de amadurecimento. Ainda aos 58 anos não acostumei com a dor da ausência, a amargura das datas especiais sem eles, a falta do ombro amigo da mãe sempre pronta a perdoar.
A vida é pródiga em colocar pessoas especiais em nossa vida. Cabe a nós manter quem é especial, nos afastar daqueles que nos magoam e fortalecer o compromisso de fazer de nossos filhos cidadãos pessoas de bem, com valores humanísticos. Sempre baseados na confiança que nós, pais e mães, forjamos em seus corações.