Tenho uma amiga que é um exemplo de força. A palavra da moda para isto seria resiliência, a capacidade de se reconstruir, reinventar, ou seja: força para depois da queda levantar, dar a volta por cima, lamber as feridas, tocar a vida. Conheci esta guerreira há dois anos compartilhando o ambiente de trabalho. Ela tem sido um farol nos momentos de desespero.
Esta semana ela perdeu o irmão, de 68 anos, durante a peregrinação pelo Caminho de Santiago, na Espanha. Ele fazia o roteiro pela terceira vez. Integrava a Associação dos Amigos do Caminho de Santiago de Compostela do Estado do Rio Grande do Sul. Segundo os familiares, o gaúcho de Santa Maria não tinha problemas crônicos de saúde. A causa da morte ainda não foi descoberta.
Perder um ente querido é parte do enredo da vida. Todos sofrem perdas, embora a dor seja imensa em muitas ocasiões pela proximidade. Ocorre que esta amiga, a Flávia Oliveira, perdeu a mãe uma semana antes do falecimento do irmão. A idosa estava internada em um asilo onde recebia cuidados médicos por sofrer de uma doença degenerativa incurável.
Perder parentes e amigos queridos é prova de força, fé e busca de energia para seguir adiante
Flávia é um amiga que todo mundo quer: tem alto astral em todas as circunstâncias. Está sempre disposta a ajudar, dar dicas, oferecer um ombro amigo para consolar. Um dia precisei de uma faxineira. Em 15 minutos ela enviou, por whatsapp, três nomes com os respectivos telefones. Ela também é uma mulher profundamente religiosa, sem ser carola ou bitolada.
Somente uma pessoa espiritualizada é capaz de suportar uma sequência de infortúnios de tamanho impacto emocional. Revolta, tristeza, depressão e inconformismo eterno permeiam o turbilhão de sentimentos deflagrados pela morte de um ente próximo. Compreender e aceitar é tarefa para poucos.
Pessoas iluminadas estão em toda parte. Elas insistem em acreditar na vida, nos semelhantes, nos aspectos positivos da existência humana. O cotidiano que cobra pressa com frequência tira o foco destas referências que deveriam nos inspirar.
O exemplo da Flávia faz meus problemas parecerem ridículos, as agruras são contratempos, as contrariedades meros desencontros de vida. Não prego o conformismo que flerta com um mundo sempre cor de rosa, mas uma atitude menos revoltada, mais consciente.
Rendo aqui minha homenagem à amiga Flávia que enfrenta com sensibilidade as rasteiras do destino. Perder parentes e amigos queridos constitui prova de força, fé e busca de energia para seguir adiante. Obrigado à vida por ter colocado em minha trajetória um personagem de tamanha importância espiritual!