Mudar a rotina é muito mais difícil que parece. É uma máxima esfarrapada, mas sempre presente. O tempo mostra que é preciso alterar certos comportamentos que podem resultar em sérios prejuízos à saúde física.
A sanidade mental obedece a raciocínio semelhante. “Engana-se a todos, o dia todo, mas o travesseiro é implacável: não mentimos para ele, é impossível!”, costumo repetir. Ao deitar fazemos uma análise isenta do dia. Afinal, não temos ninguém para enganar.
Relaxados, dispensamos desculpas usadas no cotidiano. Abandonados à prática de “terceirizar culpas”, imputando aos outros a razão de nossas mazelas. E, inevitavelmente, ao final, do relato mental, suspiramos.
– Preciso mudar, não dá mais!
Ao despertar, porém, a pressa e os velhos hábitos soterram a intenção de mudar. Aos 58 anos, rever comportamentos virou uma obsessão. Os problemas se repetem, os aborrecimentos são os mesmos, as frustrações só aumentam, o sentimento de impotência potencializa.
Acordar ficou mais leve. Aos 58 anos, decidi pensar e apostar mais em mim
A crise é o principal óbice para mudar de vida. Sair de um emprego tóxico, fugir de um chefe déspota e desequilibrado e tentar viver com mais qualidade de vida não parece fácil. Há contas a pagar, compromissos a cumprir, promessas assumidas.
À medida que a angústia aumenta torna-se mais urgente agir. Amor sem parceria e emprego depressivo exige determinação para serem extirpados. Não é fácil conciliar satisfação do pós-jornada com um salário digno. O mesmo vale para optar apenas por afetos compatíveis que, cá entre nós, não são abundantes.
Recentemente tomei uma decisão difícil, motivada por reiterado sofrimento que me impingia. Não me arrependo. Pela primeira vez não flertei com o arrependimento ou temor. Sei tratar-se de um caminho duro, espinhoso, desafiador. A rotina mudou. É preciso assimilar outro “fuso horário” sem tarefas pré-determinadas, o que exige disciplina férrea para não derrapar para a depressão.
Os amigos – sempre eles! – têm sido vitais. A família me abraçou, fortalecendo um elo fundamental na quadra da vida. Viajarei por alguns dias, algo inimaginável nesta época do ano, antes de minha decisão incomum.
Acordar tornou-se mais leve. À beira dos 60 anos, decidi pensar e apostar em mim. Dei-me o luxo de dizer “não” a práticas que contrariem princípios caros para mim, como ética, respeito, e um mínimo de civilidade.