Passei a vida ouvindo teorias sobre o temperamento colérico do gaúcho para explicar porque não reelegemos governadores. Depois do pleito de domingo voltei a constatar que o comportamento dos habitantes da Província de São Pedro destoa do restante do Brasil. Tenho restrições a diversas nuances de nossa forma de ser e agir.
A tendência em ser “do contra” já causou sérios prejuízos que nos tornaram, em diversos segmentos, a excelência do atraso. Leitores na faixa etária dos 50-60 anos – como eu – lembram que já fomos o “celeiro do país”. Também tivemos a educação mais qualificada do Brasil e éramos o único Estado sem presos em delegacias.
Durante quatro anos convivi intensamente com o então governador Germano Rigotto, um mestre de fazer política com respeito e educação. Mesmo sem mandato há 12 anos é referência nestes tempos de ódios e rancores que não cicatrizam.
Ao longo do mandato, Rigotto manteve respeitosa convivência com Lula na Presidência da República. Fomos inúmeras vezes a Brasília e recebemos o maior mandatário do país frequentemente no Palácio Piratini. Apesar da pressão, resultante do clima beligerante que marca o Rio Grande, o governador se manteve altivo, não cedeu aos apelos de guerra declarada.
O preço a pagar é alto para quem mantém a dignidade e a coerência por seus princípios. Em política, aliar-se a heróis de ocasião ou coligar com fenômenos midiáticos é típico de oportunistas temerosos dos riscos da impopularidade.
Em 1º de janeiro um novo inquilino ocupará o Palácio Piratini. É um jovem com ótimo retrospecto em sua breve trajetória política. O sucesso de Eduardo Leite dependerá dos conselheiros que auxiliarão na indicação dos nomes para integrar o secretariado. A estrutura do Estado é gigantesca, embaralhada, caótica. Isso permite que servidores – CCs ou de carreira – mal-intencionados se mantenham anônimos ao longo de quatro anos, minando excelentes projetos em nome de interesses escusos.
Sou um incurável romântico otimista. Acredito, sim, no aperfeiçoamento do ser humano
Infelizmente a filosofia do “Perdoa teus inimigos, mas esquece de seus nomes” prevalece no RS. A vingança está entranhada, apesar da crise gigantesca que manda embora do Estado uma legião de gaúchos. Um pacto é impensável. Seria sinônimo de fraqueza. Esquecer é um gesto de grandeza, mas soa como debilidade.
As raízes contestadoras de nossos antepassados escreveram páginas memoráveis ao longo da história. Fincar fronteiras para afugentar invasores legou território, orgulho, personagens inesquecíveis. Mas os tempos são outros.
Pregar união quando as feridas ainda sangram soa piegas, insano até. Sou um incurável romântico otimista. Acredito no aperfeiçoamento do ser humano principalmente através da autocrítica. Uma eleição envolve milhões de interesses, alguns inconfessáveis. Por isso, é um processo permeado pelo emocionalismo e passividade.
Não importa qual é o teu partido, amigo (a) leitor (a). Vivemos – todos – no Rio Grande do Sul e no Brasil que, a partir de 2019, estarão sob nova direção. Perdoar é divino. E fundamental para termos um futuro melhor.