Com o passar do tempo abrimos mão de muitos prazeres. É consequência da idade, da falta de tempo, dinheiro ou de outras contingências da vida. Mas uma das alegrias que não abro mão é ler jornais em papel, e não na internet como muita gente costuma fazer.
Minha leitura matinal, a partir das 6h, obedece a um ritual consolidado. Depois do banho e do chimarrão cevado no capricho, vou até a entrada do prédio onde moro para buscar os exemplares da Zero Hora, Correio do Povo e Jornal do Comércio, que uma vez por semana se juntam ao O Alto Taquari que recebo pelo correio.
Caneta, bloco e rádio ligado são parceiros nesta mania que tem mais de 40 anos. Ler os jornais no papel oferece múltiplas e únicas possibilidades. Por exemplo, permite rabiscar os exemplares à vontade, com anotações na lateral das páginas. A leitura permite, ainda, enviar cerca de 40 whatsapp para amigos com notícias do seu interesse.
A leitura empresta também inspiração para redigir colunas semanais para cinco jornais do interior, além de sites de parceiros jornalistas. Serve, ainda, para abastecer os conteúdos do twitter e postagens no facebook.
Os jornais também servem para a leitura do meu sogro de 88 anos
Filhos e minha mulher sequer disfarçam as ironias com as minhas manias cada vez mais inflexíveis. Dizem que sofro de TOC crônico, abreviatura de Transtorno Obsessivo Compulsivo que leva a pessoa repetir obstinadamente os mesmos comportamentos, tornando-se dependente deles. Levo numa boa, mas às vezes me irrita a desorganização deles que frequentemente perdem objetos, horários e compromissos.
Os jornais lá de casa servem também para a leitura obrigatória do meu sogro, seu Pedro Pereira Nunes. Aos 88 anos ele não dispensa passar os olhos nas novidades impressas. Ao longo do dia ele ouve rádio e zapeia entre a Band News e a Globo News na tevê a cabo. Depois da caminhada diária que se prolonga por duas horas, ele despenca no sofá para devorar os jornais e tirar longos cochilos.
Quando converso com estudantes de Jornalismo ou falo em eventos sobre comunicação, invariavelmente me perguntam sobre o futuro do jornal “no papel”. Neste momento lembro as inúmeras pesquisas que revelam que a maioria dos entrevistados acha que o modelo “on line” vai superar o velho informativo em papel em breve.
A situação muda, porém, quando estas mesmas pessoas são indagadas se aceitariam trocar a assinatura tradicional pela leitura via internet. Maciçamente eles respondem que não trocariam.
Isso, para o meu consolo, serve de esperança em acreditar que o meu vício matinal ainda vai perdurar por um bom tempo. Tomara!