Uma posse diferenciada marcou o início do governo Jair Messias Bolsonaro (PSL) e do vice Antônio Hamilton Martins Mourão (PRTB). Um forte esquema de segurança, o discurso em Libras da primeira-dama, participação de menos delegações estrangeiras, foram apenas alguns dos detalhes que marcaram a posse de Bolsonaro, na terça-feira, dia 1º.
Mais de cem mil pessoas acompanharam o ato e gritavam “mito” e o “capitão chegou”, numa referência a patente do presidente enquanto militar. Após desfilar em carro aberto, Bolsonaro e a esposa Michelle, juntamente com o vice Mourão e a esposa Paula, se dirigiram ao Congresso, onde o presidente do Senado, Eunício Oliveira, comandou a sessão de posse.
Em seu primeiro discurso como presidente do Brasil, Jair Bolsonaro foi sucinto e objetivo. Agradeceu a Deus por estar vivo e deixou claro que tomava posse como presidente porque esta foi a vontade soberana do povo. Se disse emocionado e honrado em assumir o comando do país e conclamou os congressistas para auxiliarem. “Aproveito este momento solene e convoco cada um dos congressistas para me ajudarem na missão de restaurar e reerguer nossa pátria, libertando-a definitivamente do jugo da corrupção, da criminalidade, da irresponsabilidade economia e da submissão ideológica. Temos diante de nós uma oportunidade única de reconstruir o nosso país e de resgatar a esperança de nossos compatriotas”.
Frisou que sua equipe foi montada de forma técnica, “sem o tradicional viés político que tornou o Estado ineficiente e corrupto” e prometeu mudanças econômicas: “Na economia, traremos a marca da confiança, do interesse nacional, do livre mercado e da eficiência. Confiança no cumprimento de que o governo não gastará mais do que arrecada”. E complementou: “Realizaremos reformas estruturantes que serão essenciais para a saúde financeira e sustentabilidade das contas públicas, transformando o cenário econômico e abrindo novas oportunidades”.
Na sequência se dirigiu ao alto da rampa do Palácio do Planalto onde houve a troca de faixa presidencial. O então presidente Michel Temer passou a faixa verde e amarela, com o brasão da República, para o presidente Jair Bolsonaro.
Antecedendo ao pronunciamento do presidente, a primeira dama Michelle “roubou” a cena e fez um discurso em Libras. Sem dizer uma palavra deixou claro que não será uma primeira-dama inativa. Quando o público pediu para beijar o presidente, não pensou duas vezes e deu dois selinhos no marido.
Mudanças
Ao discursar no Palácio do Planalto, Bolsonaro destacou a necessidade de mudanças. Disse que as urnas apontaram que este é o desejo do povo e que está comprometido com este anseio. “Também estou aqui para renovar nossas esperanças e lembrar que, se trabalharmos juntos, essa mudança será possível. Respeitando os princípios do estado democrático de direito, guiados por nossa Constituição e com Deus no coração, a partir de hoje, vamos colocar em prática o projeto que a maioria do povo brasileiro democraticamente escolheu, vamos promover as transformações de que o país precisa”.
Falou em reconstruir o país e novamente destacou que sua equipe é técnica e não política. Salientou que há desafios pela frente e que o povo não pode deixar que “ideologias nefastas”, sem mencionar quais, “venham a dividir os brasileiros”. “Ideologias que destroem nossos valores e tradições, destroem nossas famílias, alicerce da nossa sociedade. E convido a todos para iniciarmos um movimento nesse sentido. Podemos, eu, você e as nossas famílias, todos juntos, restabelecer padrões éticos e morais que transformarão nosso Brasil”.
Bolsonaro defendeu o fim da corrupção, privilégios e vantagens. “Os favores politizados, partidarizados devem ficar no passado, para que o Governo e a economia sirvam de verdade a toda Nação”.
Prometeu mudanças na política econômica e desburocratização: “Vamos propor e implementar as reformas necessárias. Vamos ampliar infraestruturas, desburocratizar, simplificar, tirar a desconfiança e o peso do Governo sobre quem trabalha e quem produz”.
E assegurou mais atenção à educação básica “que é a que realmente transforma o presente e o futuro de nossos filhos e netos, diminuindo a desigualdade social. Temos que nos espelhar em nações que são exemplos para o mundo e que por meio da educação encontraram o caminho da prosperidade”.
O presidente ainda mencionou várias vezes nos seus dois discursos a questão ideológica: “Vamos unir o povo, valorizar a família, respeitar as religiões e nossa tradição judaico-cristã, combater a ideologia de gênero, conservando nossos valores. O Brasil voltará a ser um país livre das amarras ideológicas”, disse aos congressistas. Depois, já no Planalto com uma bandeira do Brasil em mãos afirmou que “a nossa bandeira nunca será vermelha”.
Após o pronunciamento, houve um momento de cumprimentos no Planalto e, na sequência a posse dos ministros e a recepção com coquetel no Itamaraty.