Graças ao desmonte dos Correios recebo meu exemplar de O Alto Taquari com atraso. A edição do último dia 1° exibiu uma matéria de grande sensibilidade. “Último pedido de um assinante”, que conta a história de Aloísio Loreno Neumann, falecido em 9 de fevereiro. A última visita que as irmãs fizeram a ele no hospital foi, sem elas saberem, uma despedida. Mas na ocasião Loreno – ou Loli como era conhecido – pediu que aquele encontro derradeiro fosse registrado em foto para lembrança “e para ser publicado no jornal”.
Além da questão humana, o texto ressuscitou uma discussão cada vez mais presente em palestras e bate-papos em que participo: o desaparecimento do jornal “em papel”. Sou suspeito no tema porque há mais de 40 anos sou “canetinha”, termo que designa os profissionais que trabalham em jornal.
Estreei aqui, neste jornal com 16/17 anos. Depois fui para o Informativo (que ainda não era “do Vale”) do grande amigo Oswaldo Carlos van Leeuwen, antes de chegar à Gazeta do Sul (do Grupo Gazeta, de Santa Cruz do Sul) e finalmente cheguei a Porto Alegre, na Zero Hora, onde cumpri uma jornada de 11 anos em duas passagens. Repito aos estudantes de Comunicação que o jornal impresso tem e terá sempre um lugar cativo no coração das pequenas comunidades.
O desejo de Aloísio Loreno Neumann esboça um sentimento de gratidão com o jornal
É neste ambiente que jornal, rádio, internet e até sucursais de emissoras de tevê desempenham papel de relevância porque vivenciam os problemas e, por isso, fomentam as soluções. Nos grandes centros os interesses se misturam, o egoísmo é exacerbado e cada um cuida de si. Nos pequenos e médios municípios a imprensa fiscaliza, cobra e promove iniciativas com em parceria com o poder público e as entidades da comunidade.
Os alto custo dos insumos e o avanço vertiginoso dos meios digitais reduziu o espaço dos jornais, mas diminui a sua proeminência. Um texto escrito é um documento. Basta vasculhar caixas e gavetas dos “jovens há mais tempo”, como eu, à beira dos 60 anos. O hábito de guardar recortes virou vício, apesar das críticas de meus filhos que não cansam de repetir:
– Pai… por que guardar esta velharia? Está tudo na internet!
Não é bem assim. Muitos conteúdos, dos idos anteriores à década de 90, por exemplo, são difíceis de encontrar na rede mundial de computadores na integralidade. Além disso, tenho inúmeros pedaços amarelados de jornal contendo textos de minha lavra dos meus tempo de “foca”, termo que designa um jornalista inexperiente.
O desejo de Aloísio Loreno Neumann esboça um sentimento de gratidão com o jornal porque vê, neste veículo, o depositário de sua existência. Ele sabia que parentes, amigos e conhecidos guardarão o recorte de O Alto Taquari. Como documento, recordação e inspiração para aqueles que fazem do jornal um companheiro de chimarrão, café ou lazer. O jornal “em papel” é assim: tem cor, forma e cheiro peculiares.