Estava preparado para falar do que vi no centro de Arroio do Meio no final de semana. Como faço mensalmente, estive na terrinha, circulando, conversando com amigos, indo às lojas e supermercado, até o carro foi lavado no capricho. Sábado à tarde conversei com o professor Fernando Campos, dono de uma academia de ginástica e artes marciais na rua Maurício Cardoso.
Vi a muvuca na Rua de Eventos, na Praça Flores da Cunha, no entorno da igreja católica e prefeitura. Conferi o movimento saudável da cidade, bares, padarias e outros estabelecimentos lotados, a vida pulsando e a economia girando.
À noite, a hora do anúncio dos resultados da gincana, degustava um xis bacon com os amigos Enio e Carla Meneghini. A festa contagiante, o barulho da comemoração, a alegria dos vencedores, ao lado da conformidade de quem não conseguiu chegar lá.
A gincana é uma instituição arroio-meense, consagrada a partir da criação dos amigos do The Horse. Há pouco tempo a promoção foi encampada pela prefeitura, quando sofreu mudanças e adaptações, mas continua o grande evento da cidade.
Há décadas defendo a necessidade de Arroio do Meio manter uma festa, como a Frangofest, com calendário fixo de atividades, eleição da corte com rainha e princesas. Além de movimentar a economia, o evento gera repercussão na mídia, divulgando o nome do município e nossas potencialidades.
A sensação de impotência é total. Faltam argumentos,
energia e ânimo para consolar quem sofreu as perdas
A gincana do final de semana polarizou o Vale do Taquari, com eco pelas ondas da Rádio Emoção FM, que falou durante todo o sábado de seu estúdio instalado na Rua de Eventos, um espaço consagrado de multiuso. Tudo isso, porém, se esvaiu, a partir da tragédia representada pela morte de dois jovens diretamente envolvidos com a agitação.
Rigorosamente não há consolo, palavras ou gestos para atenuar para o que as famílias estão passando. Ninguém pode sequer imaginar o sentimento que permeia a vida dos familiares envolvidos neste doloroso evento. Infortúnios deste tipo subvertem a ordem natural da vida, onde filhos partem antes dos pais.
Arrancar jovens do convívio familiar de maneira abrupta constitui um fenômeno cuja explicação desafia a compreensão humana. Desde o momento que soube do ocorrido, através da amiga e competente jornalista Maica Viviane Gebing, tudo que vivi na minha ida de sábado e domingo despareceu da minha memória, voltando à medida que redigi esta crônica.
Pai de dois filhos – o mais novo, de 23 anos, morando longe de casa – não consigo deixar de pensar nos pais. A alegria, abruptamente atropelada pela dor, dilacera o coração, põe em xeque as convicções religiosas e impõe um novo patamar para enxergar a vida.
A sensação de impotência é total. Faltam argumentos, energia e ânimo para consolar os que estão mergulhados neste precipício de sofrimento incomensurável. Condolências são comuns, mas a cicatriz da perda é eterna.