Como ensinar o filho que é preciso ser feliz no trabalho e, ao mesmo tempo, ganhar o suficiente para viver dignamente? Como mostrar que a mentira é um mau conselheiro mas que, na vida em sociedade, é preciso ser hipócrita vez ou outra para não viver em permanente conflito?
Estes são desafios onipresentes na árdua missão de educar filhos. Ontem e agora, época das invasoras redes sociais, forjar a personalidade dos rebentos é um eterno exercício de lapidação do bem mais precioso que dispomos.
O resultado desta intensa dedicação é a simbiose entre o que tentamos ensinar e as relações sociais de nossos rebentos, especialmente na adolescência. Por temperamento, compro brigas pelo hábito de “tirar tudo a limpo”. Apesar da experiência, sou pródigo em ignorar o sábio conselho do velho Giba, meu pai:
– Assim como no casamento, em muitos momentos da vida é preciso exercer a arte “de se fazer de surdo” para sobreviver.
No trato com meus filhos não é diferente. Sou chato ao exigir esclarecimentos de detalhes que muitas vezes são pistas que revelam riscos, como companhias pouco construtivas em relação aos preceitos que tentamos legar. Nenhum manual tem o condão de dar a dimensão exata da intensidade que envolve a relação pais e filhos.
O cotidiano cada vez mais frenético, a falta de tempo, a falta de coincidência de horários e a falta de disponibilidade de uma das partes para o diálogo inviabiliza momentos para colocar em dia as diferenças, falar sem censura.
Educar tem sido uma perigosa repetição de tentativa
e erro, desprovida de orientação e método
À medida que crescem, nossos filhos ficam cada vez mais distantes. Eles mantêm agendas próprias, amigos “alternativos” e somem como num passe de mágica, além de cultivarem a dependência tecnológica. Também adoram tatuagens e piercings, não abrem mão de suas preferências, são vegetarianos, veganos ou ateus.
O desafio que tortura a nós, pais, consiste em mostrar aos descendentes que o caminho escolhido dificilmente levará ao destino almejado. Já percorremos essa trilha inúmeras vezes. Tropeçamos nos mesmo obstáculos. Ao final, a repetição mostrou que era preciso mudar o rumo, porque o diário de bordo originalmente traçados causou cansaço, sofrimento e dor.
Já tive muitas noites insones porque me questionei sobre os métodos que escolhi para criar meus filhos. Dona Gerti, minha falecida mãe, dizia que para tirar carteira de motorista, ser padrinho dos noivos, para casar e até para passar em concurso é preciso fazer um curso.
– Somente para ter filho… basta querer! – repetia a valente baixinha, que nos deixou há dois anos, com irritação.
A experiência demonstra que ela tinha razão. Basta olhar à volta para constatar com frequência que educar tem sido uma perigosa repetição de tentativa e erro, desprovida de orientação e método. Os resultados, por isso, muitas vezes não são os melhores.