Quando vejo a gurizada hipnotizada pelos jogos eletrônicos, sem desviar os olhos do smartphone ou do computador, nem para comer, lembro da minha infância. É inevitável! É mesmo uma “coisa de velho”. Não existe parâmetro de comparação. Mas voltar no tempo é uma reação instintiva.
Sou de 1960, o que dá bem a dimensão da distância que separa as épocas. Coisa de uns 40 anos. Entre tantas brincadeiras, uma – bastante original, modéstia à parte – ficou marcada para sempre. Antes, porém, é preciso localizar no tempo e no espaço o momento em que ocorreu o episódio.
Nasci na Bela Vista, interior da nossa Arroio do Meio, a “Pérola do Vale” do Alto Taquari, à época com cinco mil habitantes. Perto daqui está Lajeado, a “Capital do Alto Taquari”, centro comercial e empresarial da região.
Lajeado também ostenta o título de primeira cidade das redondezas a ter um edifício equipado com elevador. Na época, a notícia provocou um alvoroço geral.
Depois de alguns meses da abertura ao público, o edifício comercial se transformou em ponto turístico. Eu e minha irmã, Neusa, apelamos às primas Tânia e Mara Kirsch para viabilizar o contato com o “transporte vertical”, que apavorava alguns e maravilhava outros.
Foi uma tarde de muitos sustos,
que viraram gostosas risadas
Numa tarde ensolarada encontramos as primas e partimos para o moderno edifício. A primeira surpresa ocorreu ao constatar o tamanho do prédio. Não lembro quantos andares, mas era algo inusitado para nós que morávamos “no interior do interior”, ou seja, na colônia.
A primeira “viagem” de elevador foi marcada pelo medo. A cada ruído, desde o fechamento da porta, tudo era susto e pavor… muito pavor! Concluída a primeira chegada ao térreo tomamos gosto (e coragem!) para novas aventuras, que se repetiram ao longo da tarde. Perdi a conta de quantos passeios fizemos com o primeiro elevador que conheci na minha vida.
Tudo corria bem até que, lá pela oitava ou nova subida, o porteiro do prédio ficou indignado e disparou o botão do alarme fazendo o veículo frear entre dois andares. A gritaria foi grande. Havia outras pessoas conosco, o que só aumentou o pavor, o choro e as lágrimas.
Depois de alguns segundos, o elevador desceu suavemente “até o chão”. Sem olhar para trás chegamos à calçada no lado oposto ao prédio.
O susto foi tão grande que, por detalhe, não fomos atropelados por um ônibus que completou a tarde de sustos, medo e xingamentos. Depois, porém, tudo virou motivo de boas risadas e exibicionismo.
*Extraída do blog Em Outras Palavras.