João Mário Haupt, 75 anos, dedicou 63 anos de sua vida à indústria gráfica. Durante 53 anos, atendeu demanda estratégica do empresariado arroio-meense com a Gráfica Sulina. No começo, disponibilizando a excelência na tipografia e, posteriormente, a ampliação de produtos e serviços, através da inovação tecnológica com a impressão offset e digital. Juntamente com a esposa e filhos, concretizou realizações profissionais e pessoais.
Natural de Carazinho, João Mário Haupt, cresceu no bairro Oriental, em Estrela. Seu pai era fundidor na Fundição Zwirtz, e sua mãe dona de casa. Caçula de mais duas irmãs, começou a trabalhar cedo, aos 13 anos, como impressor e tipógrafo na Gráfica Paladino. “Era necessário compor letra por letra. Levava em torno de uma manhã para concluirmos uma matriz de tamanho A4”, recorda.
Nessa fase se apaixonou pela jovem professora Lucilda Scheibe, que era interna do Colégio Santo Antônio. Enquanto ela cursava o magistério diurno, dava aula à noite, e Mário foi seu aluno em uma espécie de supletivo.
Em 1966, apareceu uma oportunidade que solidificou o seu futuro no segmento gráfico em Arroio do Meio. Haupt e o colega de trabalho, Milton Rocha, assumiram a gráfica de Luiz Mantelli (o pai), que havia fechado. A ntermediação foi feita por meio do Conselho de Desenvolvimento do Município. As maiores empresas na época (Bebidas Kirst, Wallérius, Curtume Aimoré, Posto do Poletto, entre outras, e algumas particulares, como o eletrotécnico Cláudio Schmidt), adiantaram dinheiro aos sócios para que pudessem adquirir e estruturar a gráfica, cujo funcionamento era crucial para emissão de notas fiscais e outros materiais impressos. “O primeiro ano foi difícil, porque tínhamos de atender essas empresas gratuitamente. A receita acabava vindo de outros empreendimentos. Atendíamos toda a Região”, dimensiona.
O nome Sulina foi inspirado numa empresa de ônibus, que antigamente fazia itinerários entre Estrela e Porto Alegre. Até meados de 1990 todo o material era desenvolvido tipograficamente. O serviço era bastante manual, exigindo muito foco e paciência. O conteúdo era grafado/tipografado manualmente nas chapas matrizes de aço de forma espelhada. Os tons coloridos eram inseridos por clichês (espécie de carimbo de chumbo). Essa parte era terceirizada. Os clichês permitiam a introdução de cores.
Houve um período, durante a Ditadura Militar, entre as décadas de 1970 e 1980 que faltou papel. A empresa precisou comprar as resmas quase que de forma clandestina, diretamente com os fornecedores em Porto Alegre, sem nota fiscal e com dinheiro em espécie. Em outra época, a gráfica chegou a operar em três turnos, atendendo inclusive clientes da Serra Gaúcha. Embora não fosse o foco, a Sulina também acabou imprimindo algumas revistas.
As campanhas eleitorais também sempre geraram muita demanda. Os santinhos da política levavam, em média, de três a cinco dias para ficarem prontos e mexiam com as expectativas nos bastidores. “Hoje grande parte do material de campanha é desenvolvido pelas gráficas dos partidos, mas ainda fazemos alguns”, afirma.
Em 1982, o sócio Milton acabou aposentando-se e oferecendo sua parte da empresa a Mário. “Ele me deu prazo para a compra até o fim daquele ano, senão voltaria para a empresa. Como eu queria muito ser o dono, acabei pegando dinheiro emprestado”, revela.
A grande revolução ocorreu por meio das máquinas de impressão offset, que possibilitaran a ampliação do portfólio em uma infinidade de tipos de materiais gráficos, atendendo aos clientes de uma forma bastante variada, possibilitando cartões de visita, folders, rótulos e convites, compreendendo todos os tipos de papel, cartolina, adesivos e etiquetas. A Sulina fez os primeiros investimentos nessa tecnologia em meados de 1990. As linhas de produção ainda eram complementadas por navalhas elétricas e grampeadoras manual e elétrica.
A participação da família na empresa sempre foi importante. Em Arroio do Meio sua esposa Lucilda era professora do Estado, atuava pelo Guararapes, e atendia contratos do Colégio São Miguel e CNEC, e nas horas de folga ajudava no estabelecimento. Seus três filhos, também chegaram a atuar nas linhas de produção da empresa. Assim como a mãe, Andréa e Ana Lúcia seguiram carreira no magistério. E Everson está na empresa desde 1991.
Entre 1995 e 2007, um dos focos foi a construção do prédio próprio na rua Dr. João Carlos Machado, para sair do aluguel do imóvel que ocupavam, há 42 anos, na rua Maurício Cardoso, de propriedade de Albino Brock. No novo endereço, o filho Everson acabou assumindo a direção da empresa. Recentemente a família buscou continuar evoluindo e abriu outra empresa no segmento, a Idealize Impressos e Personalizados, situada na rua São João, para serviços mais sofisticados na impressão digital.
Em toda a trajetória da empresa a conjuntura econômica sempre impactou nos negócios. O dólar ainda influencia bastante no preço da tinta, papel e no alumínio das chapas matrizes, lembrando que o desenvolvimento das matrizes que levava horas, foi terceirizado recentemente. A vinda da nota fiscal eletrônica é considerada positiva, apesar de antigamente ter sido o carro chefe da empresa. A não produção faz sobrar mais tempo para desenvolver outros serviços com maior valor agregado.
Na vida social, Mário se destacou como goleiro de futsal, integrando diversas equipes do município e Região. “Joguei em todo o RS. Aqui na cidade jogava praticamente todas as noites, às vezes três jogos emendados”, revela. Abandonou o futsal aos 58 anos de idade, devido a um problema de visão. Não era usual jogar com óculos, além disso, havia muita competitividade com veteranos mais jovens. Outro hobby que Haupt possuía era a pesca esportiva, atividade considerada importante para sair da rotina e reenergizar. Seu companheiro de pesca era Celeste Brock. “Pescávamos todos os sábados, aqui no rio Taquari, no Jacuí, ou mais longe. Mas, com o tempo, a memória dessa época vai se apagando, só ficam os rastros”, comenta.
Os momentos de curtição com os dois netos, Caio, de 6 anos, e Matheus, de 26 anos, que trabalha na Netflix nos EUA, também são muito valorizados. “Infelizmente não tenho mais pique pra brincar como brinquei com meus filhos”, reconhece.
Profissionalmente, Mário se sente realizado e útil. “Consegui concretizar tudo que almejei enquanto empresário e na vida pessoal”. Apesar de aposentado, Mário se sente prestativo ajudando na empresa que fundou, contando com o coleguismo dos colaboradores mais antigos e dos novos. “Ainda desempenho todas as etapas do serviço de uma gráfica, desde a manutenção dos equipamentos ao funcionamento das linhas de produção e presto orientações”, revela.