Nascida em 1931, em Encantado, Clari Fleck adotou Arroio do Meio como sua cidade do coração. A história de Clari praticamente junta-se à do município, devido ao empenho à frente da tradicional Loja Fleck, que pertenceu à família do marido, Herberto Henrique Fleck, por várias gerações.
o colegial em Lajeado, na década de 1940, como interna no Colégio Madre Bárbara. De lá, teve a oportunidade de transferir-se para o Colégio Bom Jesus Sévigné, de Porto Alegre, onde concluiu os estudos. Foi uma tia quem se dispôs a falar com seus pais e hospedá-la, para que estudasse na capital gaúcha. “Ela perguntou se eu gostaria de estudar em Porto Alegre e eu adorei a ideia. Foi, então, falar com meu pai e com minha mãe e lhes garantiu: ela vai morar comigo. Eles aceitaram”, lembra.
Depois de formada, voltou para Encantado onde fez Contabilidade. Muito ativa e com vontade de trabalhar, passou a atuar junto com o pai, Vitório Carlos Gregoire, proprietário do Cartório de Registros de Imóveis de Encantado. O cartório foi herança do avô de Clari, Ernesto Gregoire. “Meu avô veio da Bélgica. Quando chegou em Encantado, ele tinha todos os cartórios, mas depois que adoeceu, os repartiu entre os familiares. Meu pai, Vitório, tinha 17 anos quando começou a trabalhar com meu avô”, conta.
Clari casou-se com Herberto Henrique Fleck em 23 de maio de 1954. Conheceram-se em um baile de gala realizado na Sociedade Ginástica de Estrela (Soges). Seu noivado seguiu por um ano, enquanto era construída a residência onde ela mora até hoje, na rua General Daltro Filho, Centro de Arroio do Meio. O casal teve quatro filhos: Alexandre (in memoriam), Carlos, Júnior e Eduardo (in memoriam). E três netos: João e Carolina, filhos de Carlos e Karen, e Luísa, filha de Júnior e Sandra (in memoriam).
Logo que mudou-se para o município, no princípio, Clari diz que sentiu-se uma ‘estranha no ninho’. “Conhecia a família do meu marido, a família da minha sogra e a família de dona Carola Poletto. Os Schneider, os Fleck e os Poletto. Meu marido trabalhava e eu ficava em casa, daí pensei: tenho que conhecer Arroio do Meio. Saí e fui caminhar pelas ruas sozinha”, relata. Quando passava em frente à uma residência, foi chamada e cumprimentada pelo nome. Tratava-se de Rosa Petry, mãe de Erni Petry. “Ela me chamou pelo nome e abanou para mim. E eu não conhecia ninguém aqui, fiquei tão contente quando isso aconteceu. E assim, aos poucos, eu fui conhecendo a cidade”, declara.
Hoje, Clari declara o seu amor à Pérola do Vale. “Me adaptei tão bem. Aqui nasceram meus filhos e isso me dá uma grande satisfação pois amo este lugar. É muito bom de morar, pertinho de Porto Alegre, limpo e maravilhoso”, completa.
Ela e o marido sempre tiveram muita preocupação com a educação dos filhos e procuraram estimulá-los e incentivá-los a ler e estudar sempre. O casal costumava frequentar muitos bailes de comunidades e kerbs e gostava muito de dançar. Também viajaram por vários países da América Latina, como Uruguai, Argentina e Chile.
Junto à Loja Fleck por 40 anos
Quando o filho mais novo, Eduardo, tinha mais de um ano, Clari sentiu que era hora de voltar ao trabalho. Foi quando o marido a convidou para juntar-se a ele na loja, como caixa. A Loja Fleck foi um dos principais pontos de comércio de Arroio do Meio e funcionou por 125 anos, cuidada por quatro gerações da família. Além de Herberto e Clari, os filhos Carlos e Eduardo também atuaram na casa comercial. Júnior estudou Engenharia Mecânica na PUC-RS e seguiu a carreira de formação.
Clari trabalhou na Loja Fleck por aproximadamente 40 anos, o que lhe rendeu amizades e lembranças que guarda com carinho. “Eu conhecia as pessoas. Muitas vinham e me contavam os problemas, como quem precisa ouvir uma voz que anima um pouco. Era problema de família, de saúde, problemas com filhos. Eu sentia nelas que queriam uma palavra que as levantasse e eu conversava. Os que eram nossos fregueses, até hoje, quando encontro, cumprimento, converso e ficamos todos contentes”, diz.
A loja era grande, ocupava meia quadra onde hoje existe a Fruteira do Centro, na rua Dr. João Carlos Machado. Tinha sempre muito movimento e comercializava desde artigos de armazém até tecidos e plantas. No início, chegou a vender fogões, geladeiras e demais eletrodomésticos.
Clari ficou viúva em 2000 e os filhos Carlos e Eduardo tomaram a frente dos negócios. Com o falecimento de Eduardo, há um ano e meio, devido à diabetes, ela decidiu encerrar as atividades. “Já estava na hora. Meu sogro faleceu com mais de 70 anos, ali, sempre trabalhando e eu acho que a gente precisa dar uma pausa. Então, disse para o meu filho (Carlos), vamos fechar”, relata. A perda de dois filhos é um assunto muito doloroso. “Tive ajuda e tenho até hoje. Perder um filho é uma dor muito grande, só quem passa é que sabe. Eu achei que não iria superar, foi muito difícil, ” desabafa.
Hoje, aos 88 anos, Clari segue muito ativa. Em casa, conta apenas com a ajuda de uma pessoa para a faxina mais pesada. “Eu faço o que eu posso, não quero ficar sentada sem fazer nada. Não quero me acomodar”, salienta. A agenda da semana é cheia, com dança sênior às segundas, pilates às terças, a faxina da casa às quintas, jogo de bingo com as amigas às sextas e carteado no sábado. Apenas as quartas-feiras são livres. “Gosto muito da minha casa, mas eu preciso me mexer. Não quero me entregar”, completa. As atividades são incentivadas pelo filho mais velho, que reside em Arroio do Meio.
Em casa, sua companhia inseparável é Boris, um cão da raça shih-tzu de um ano e meio de idade, pelagem branca e preta e com um olho azul e outro castanho. Boris sempre recebe a dona com alegria quando ela chega em casa. “Esse cachorrinho que eu ganhei foi como um remédio muito bom para mim. Ele é muito amoroso. Se eu estou triste, logo ele nota e faz algo para me fazer sorrir”, descreve Clari.