Em minha última passagem por Arroio do Meio usufruí, pela primeira vez, da comodidade de pegar água do chimarrão na Praça Flores da Cunha. O dispensador de água quente e gelada estimula o convívio neste espaço que está muito bem cuidado. Imagino o esforço dos administradores públicos em manter o lugar limpo, longe dos vândalos.
Ao sentar perto do dispensador presenciei um episódio emblemático. Um guri de uns nove anos de idade se aproximou para encher a garrafinha de plástico com água gelada. Terminada a tarefa, deparou com a outra torneira.
Curioso como toda criança, aproximou-se do dispensador e fez menção de acionar a torneira, mas foi prontamente advertido pelo pai.
– Não mexe aí, piá! – gritou.
Fazendo cara de paisagem, o piazote avançou sem deixar de mirar o pai que, por sua vez, ficou calado. Assim que a água fervente atingiu a mãozinha o efeito arrancou gritos de dor e palavrões do infante que disparou para o colo do pai aos prantos.
– Tá vendo? Te disse para não mexer ali, mas tu não ouviu.
É preciso dar um basta ao pouco-caso de
quem deve ensinar valores de civilidade
Naquele momento pensei em quantas vezes ouvi e depois repeti para meus filhos a mesma atitude do pai do guri. Lembrei que uma das minhas atrações preferidas na cozinha em nossa casa, no bairro Bela Vista, em Arroio do Meio, eram as chaleiras da dona Gerti. Obcecada por limpeza, ela deixava o equipamento reluzente, “areado”, sem uma mancha sequer.
Inúmeras vezes fiz menção de tocar aquele objeto brilhoso, mas tapinhas na mão me devoraram. Cansado da repetida cena da desobediência o velho Giba falou alto:
– Deixa o guri botar a mão. Ele vai aprender!
E assim foi feito. Não chegou a formar bolhas na ponta de meus dedos, mas por alguns dias, tive hipersensibilidade na extremidade da mão direita. Aprendi a ouvir os mais velhos e aqueles que zelam pelo nosso bem-estar. Levei para o resto da vida a lição de respeitar os mais experientes, aqueles que têm vivência, rodagem de vida a ponto de mostrar o que é certo e errado.
A falta de comprometimento de muitos pais é tema recorrente neste espaço. É que revolta ver tantos jovens irresponsáveis que ignoram os mais comezinhos princípios de convivência social. Vandalismo, preguiça, proliferação de palavrões, falta de comprometimento e intolerância à frustração compõem um conjunto de comportamentos em qualquer ambiente.
Numa época de comunicação onipresente e conectividade permanente é incompreensível tamanha falta de sensibilidade. É preciso dar um basta ao pouco-caso de quem deve ensinar valores de civilidade. Mesmo que seja preciso queimar a ponta dos dedos.