Frustração: estado de um indivíduo quando impedido por outrem ou por si mesmo de atingir a satisfação de uma exigência pulsional.
A definição do dicionário é fria e resumida e, nem de longe, exprime o verdadeiro significado do termo. Trata-se de uma importante rotina, afinal, o amadurecimento humano é a capacidade de conviver com as contrariedades da vida. Preparar os filhos talvez seja o maior desafio dos pais no mundo conectado onde conteúdos de todo tipo invadem celulares nas 24 horas do dia.
As redes sociais contribuem – e muito – para agravar a dificuldade dos jovens em se adaptar à vida como ela é. Fotos, vídeos, postagens e todo material publicado privilegia a beleza, o consumo, a ostentação e a cultura do descartável. Adolescentes e jovens adultos têm dificuldade em compreender que ali, naquele espaço, pouco se vê sobre as agruras do cotidiano.
Não defendo a necessidade de publicar tragédias, acidentes ou mostrar pessoas enfermas. Mas a overdose de gente bonita e sarada, de paisagens paradisíacas e de luxo anestesiam as mentes menos privilegiadas que veem nesta postura um exemplo de como as suas próprias vidas são miseráveis. Postar sem atingir determinado número de curtidas ou compartilhamentos provoca depressão numa grande legião de fanáticos pelas redes sociais.
Ter filhos ou lecionar para adolescentes exige
grande habilidade, paciência e tolerância
A preocupação com o que os outros pensam a nosso respeito pode levar, inclusive, ao suicídio, de acordo com estudos científicos que se multiplicam. A falta de foco e de maturidade para enfrentar os reveses da vida está entre os principais motivos da delinquência, violência juvenil e dos conflitos dentro de casa e na escola.
A interminável convivência na casa dos pais é um refúgio para sobreviver às contrariedades do mundo. Sair todos os dias, enfrentar os desafetos – e aqueles que pensam diferente –, mas retornar no final do dia para o abrigo seguro que atende a todas as necessidades e exigências cria uma relação de eterna dependência familiar.
A incapacidade de enfrentar frustações é um quadro visível em todos os ambientes. A imaturidade parece contagiar criando um paradoxo moderno já que ao contrário de gerações anteriores, hoje é possível ter acesso a um volume inimaginável de conteúdos para quem nasceu, por exemplo, nos anos 60.
Ter filhos ou lecionar para uma turma de adolescentes exige grande habilidade, paciência e tolerância. O radicalismo que marca o Brasil de 2019 só piora o quadro de caos. O país, nos últimos anos, notabilizou-se pela proliferação de direitos e um grave esquecimento com deveres na mesma proporção.
Doar-se sem esperar contrapartida, tolerar, dialogar, compreender de forma madura e colocar-se no lugar do outro são exercícios necessários à boa convivência, mas cada vez mais raros. O comodismo de muitos pais, que alegam falta de tempo para cobrar postura dos filhos, produz uma geração em que proliferam descompromissados. O futuro vai cobrar essa fatura. E aí teremos choro e ranger de dentes.