2020 é ano de eleições municipais, pleito que mexe com a comunidade porque é no município que a vida acontece de verdade. O prefeito, ao contrário do governador e do presidente da República, é um ser real que está exposto diariamente. Todo mundo sabe onde ele mora, quais os seus hábitos e parentes, sabe de cor quais os lugares que frequenta e até os passatempos preferidos. Na missa ou na cancha de bocha os moradores fazem cobranças, exigem explicações. O prefeito, em resumo, precisa prestar contas em todos os lugares.
Nos últimos anos as atribuições do municípios só aumentaram. A União faz um grande esforço para se desonerar de muitas atribuições que transfere para as comunidades. A arrecadação só cai, reflexo de uma economia que empacou e não anda. Com isso, menos impostos são recolhidos, falta dinheiro para obras e investimentos.
A demonização que atinge os agentes políticos é injusta como toda a generalização. Conheço prefeitos que tiram dinheiro do bolso para abastecer ambulâncias, o que acarreta contas glosadas pelo Tribunal de Contas e muita dor-de-cabeça para conseguir o “nada consta” no fechamento das contas públicas.
Os vereadores desempenham um papel muito importante nos destinos das comunidades. Eles são pessoas comuns, iguais a nós, conhecidas com trajetória profissional e pessoal pública. Escolher bem os representantes é uma obrigação de todo eleitor. Dificilmente temos surpresas. A amizade e o companheirismo deve ser ignorados para dar lugar à análise técnica, sem emocionalismo.
As confusões no dia de eleição são típicas de
um pleito que mexe com toda a comunidade
Já fiz inúmeras coberturas de eleições municipais no papel de jornalista. Presenciei muitos incidentes, agressão, tiros e ofensas de toda ordem. Tudo em busca da consagração das urnas. Em determinado município, do norte do Estado, eu ouvia, dentro do carro, uma entrevista concedida por um candidato a prefeito na emissora de rádio. A certa altura, ouviu-se uma gritaria, seguida do ruído de vidro quebrado.
Corri imediatamente até o estúdio da emissora. O quadro era de destruição. O “aquário” – redoma de vidro que envolvia o estúdio – estava em cacos. A secretária, grávida de oito meses, fora agredida e graças ao segurança do local o desafeto do entrevistado não conseguiu sacar uma arma. O clima era de pânico. As funcionárias choravam, os homens estavam desconcertados e a Brigada Militar estava a caminho.
Em outra cidade os dois candidatos a prefeito eram irmãos que, há décadas, não se falavam. Entrevistei ambos, separadamente. Sobraram acusações de “ladrão de gado”, “dono de prostíbulo” e até de “pão-duro” que economizou na compra de medicamento para o pai que, por isso, sofrera um AVC.
Vendo que o clima esquentou de vez, agilizei as entrevistas e fugi do município. Soube mais tarde que o dia da eleição foi marcada por tiroteios, feridos e muita gente recolhida ao presídio regional. Típico da política paroquial.