A Escola Estadual de Ensino Médio Guararapes, de Arroio do Meio, exibe em seu portão um grande cartaz com a frase “Luto pela educação”. Segundo a direção da escola, as aulas estão suspensas até esta sexta-feira, dia 22. O educandário adere, assim, à greve do magistério da rede estadual. A mobilização é em resposta ao pacote de reformas proposto pelo governador Eduardo Leite, que tem previsão de ir à votação em dezembro. As medidas que compõem a proposta do Governo Estadual trazem uma série de mudanças que atingem o funcionalismo público.
Para o magistério, constam no pacote itens como a revisão do plano de carreira e mudanças relativas ao piso da categoria. Prevê ainda, o fim dos adicionais por tempo de serviço e mudanças no adicional de difícil acesso. A remuneração prevista para cada nível e classe da carreira não estará mais atrelada ao básico.
A semana foi ainda marcada por caminhadas dos alunos, pelas ruas do Centro, carregando cartazes de protesto e chamando a atenção da comunidade para a necessidade da valorização dos professores e de preservação de seus direitos. Na terça-feira alunos do turno da manhã, após subirem pela rua Dr. João Carlos Machado, fizeram uma parada em frente à prefeitura.
A vice-prefeita Eluise Hammes, que também é educadora, foi até os manifestantes para recebê-los e declarar apoio. Ela afirmou que ver professores e alunos tão engajados faz com que a situação seja vista de uma forma diferente, principalmente as dúvidas em relação ao período do ano em que está acontecendo a greve. “Acho importante que os estudantes também estejam engajados, é um grande ato de cidadania o que vocês estão fazendo aqui hoje. A Administração sempre trabalhou junto com a Escola Guararapes, algumas coisas estão fora do nosso alcance, mas se não pararmos não somos vistos”, declarou.
Professores que participaram da caminhada com os alunos disseram que a situação é um pedido de ajuda para todos que puderem, principalmente a comunidade. Eles agradeceram pelo gesto da prefeitura em recebê-los, em especial da vice, em ir conversar com os grevistas mesmo tratando-se de uma escola estadual.
O presidente do Grêmio Estudantil Edson Luís, Erick Müller e o vice, Alan Spaniol, acompanharam o trajeto e explicam que o corpo discente está consciente da luta dos professores e do que reivindicam. Na segunda-feira, dia 18, foram realizadas assembleias nos três turnos com representantes de todas as turmas da escola para expor a situação e ouvir de todos o que pensam a respeito de paralisar. “Foi decidido que iríamos parar”, relatam.
Os estudantes optaram por apoiar a greve sem deixar de ir à escola e que este tempo no educandário seria aproveitado para ações em defesa dos educadores, como a confecção dos cartazes usados na caminhada, mobilizações por meio das redes sociais e contatos direto com gabinetes e deputados estaduais, via telefones e mensagens. Eles defendem que os professores precisam de mais respeito e valorização. “É bem difícil para eles, porque não é apenas o caso dos salários parcelados, e eles também têm aluguel e contas para pagar”, observa Erick. Como na terça não houve merenda na escola, o grêmio estudantil providenciou lanches para os alunos que foram à caminhada. “Nos colocamos no lugar dos professores. Também há quem seja contrário ao movimento, mas a maioria dos que não apoiam é porque quer concluir logo o ano”, lembra Alan, frisando que a causa vai muito além do término do ano letivo.
Mobilização se expande na região
Conforme o diretor geral do 8º Núcleo do Cpers, com sede em Estrela, Gerson Luís Johann, a mobilização do magistério tem se expandido. No início da semana, escolas estaduais de Taquari, Teutônia, Estrela, Lajeado, Cruzeiro do Sul, Arroio do Meio, Nova Bréscia, Encantado e Vespasiano Corrêa já integravam o movimento, que tem por objetivo a retirada do pacote encaminhado pelo governo do RS. Depois, juntaram-se mais escolas, entre elas a estadual de Pouso Novo. Johann observa que as medidas atingem os servidores da saúde, segurança, judiciário, mas é mais intensa para os educadores. “O governo tenta mascarar a situação, faz de conta que paga o piso salarial do magistério. São mais de 30 escolas paralisadas neste momento. Encaminhamos moção de repúdio ao pacote às câmaras de vereadores da região, e todos têm assinado o documento”, acrescenta o diretor geral.
Na quarta-feira, alunos e professores da Guararapes estiveram na Câmara de Vereadores de Arroio do Meio visando o apoio dos vereadores para uma moção de repúdio ao pacote de reformas proposto pelo Governo Estadual.
A presidente da Casa Legislativa, Adiles Meyer (MDB), disse que a Câmara se solidariza com a situação dos servidores do Estado num geral. Também anunciou que deverá chamar uma sessão extraordinária para que a documentação recebida seja analisada e, dentro do possível, será encaminhada a moção ao Governo do Estado.
O que dizem a 3ª CRE e a Seduc
Procurada pela reportagem do AT, a 3ª Coordenadoria Regional de Educação declarou que na região escolar, das 88 escolas, distribuídas nos 32 municípios, 15 delas aderiram à paralisação total e nove paralisaram parcialmente.
A Secretaria Estadual de Educação e Cultura (Seduc) também foi procurada. O órgão declarou estar atento à movimentação, acompanhando e respeitando as manifestações do Sindicato.