Para quem é do tempo em que o jornal “em papel” reinava absoluto, é divertido assistir à velocidade que marca a comunicação no século 21. Meus filhos de 24 e 25 anos não se cansam de perguntar como vivíamos sem internet, celular e Uber. Aos poucos me convenci de que a onipresença das redes sociais dificulta qualquer comparação da minha época de jovem adulto.
Nesta semana, almoçando com colegas em um restaurante no centro de Porto Alegre lancei o desafio:
– Quero ver alguém encontrar uma pessoa que não esteja com o celular sobre a mesa ou que não interrompa a refeição para conferir a tela do aparelho!
Havia umas 40 pessoas no local. E todos estavam com o telefone ao junto ao prato. A grande maioria dedilhava ao teclado entre uma garfada e outra.
Outro desafio que lancei suscitou divertidas risadas:
– Vocês pertencem a algum grupo de WhatsApp que não tenha pelo menos dois um três “sem noção” que adoram tocar fogo nos diálogos ou respondem com atraso?
Os famosos “grupos do whats” são fonte inesgotável de brigas que têm como símbolo a eleição presidencial de 2018. Em diversas famílias o estremecimento não cicatrizou. Os finais de ano são constrangedores e os tradicionais churrascos jamais retornaram à agenda.
Mesmo com a conectividade total, há muita solidão,
depressão, suicídios e o isolamento social
Em plena era da comunicação, quase com conectividade 24 horas por dia, o processo de apreensão de conhecimento é muito difícil. O resultado é solidão, depressão, suicídios e o aumento do isolamento social, agravado pela eterna comparação com amigos lindos que estão sempre felizes e viajando por lugares paradisíacos.
Compatibilizar atualização com relax diante das redes sociais é tarefa impossível. Ficar longe do celular provoca a angústia de que algo de muito importante está acontecendo sem o nosso conhecimento. Quem trabalha com comunicação adota o comportamento de dúvida, quase pânico e verdadeiro desespero diante do risco de deflagração da terceira guerra mundial.
Para um quase sexagenário a insegurança é ainda maior. Quem tem até 20 anos nasceu digitando no berçário. Por isso, dominam qualquer aplicativo e programa e são amantes da tecnologia.
Tenho dificuldade para assimilar dispositivos que facilitam minha rotina profissional. Mas tão logo o avanço vire rotina, um novo dispositivo surge, gerando frustração. Minha última façanha são os pagamentos pelo aplicativo do celular. Apesar do êxito, confesso que fico tentado a imprimir e arquivar tudo em uma pasta de papelão…