A alta no preço do milho e da soja tem trazido impactos profundos no setor de proteína animal e, por consequência, em outros setores alimentícios. A cadeia avícola, onde a alimentação das aves, tanto de corte como de postura, representa 70% nos custos de produção, tem tomado medidas amargas para enfrentar o momento. Na tentativa de conter os prejuízos, algumas empresas têm optado em diminuir temporariamente a produção, passando a alojar menos aves. A informação é do presidente-executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos.
A evolução do preço do milho e do farelo de soja, tem se tornado pauta diária, segundo o presidente. No período de janeiro a maio do ano passado, a saca de 60 kg de milho custava entre R$ 45 a R$ 48. Hoje está o dobro. Um valor que fica inviável de ser repassado na sua totalidade ao consumidor, seja da carne de frango ou de ovos.
A avicultura, pondera dos Santos, já passa por um momento delicado por conta da pandemia, com o mercado retraído pelo fechamento de pontos de consumo, como restaurante e hotéis, e a questão econômica como um todo. No caso dos ovos, cuja produção não tem o foco na exportação, ressalta o impacto do custo é ainda maior do que na carne. O ovo, observa, é um alimento emergente, que têm evoluído muito, se tornando cada vez mais importante. Além disso, é base para a fabricação de outros alimentos, o que dificulta ainda mais o repasse integral dos custos de produção, que tornariam seu preço elevadíssimo.
A redução na produção, estimada pela Asgav entre 10% e 15%, tem por objetivo diminuir as perdas que vêm se acumulando nos últimos meses por conta dos custos de produção. José Eduardo ressalta que, tanto produtores como indústrias, conseguem enfrentar um determinado período com margens negativas, mas quando ele se prolonga, pode comprometer a atividade e o negócio. Ele alerta que se a situação persistir por mais dois ou três meses, produtores podem deixar a atividade, gerando menor oferta do produto no futuro e, consequente, valor de mercado maior.
Para o presidente, é preciso um ponto de equilíbrio no que envolve a comercialização de grãos, para que não faça falta para as cadeias produtivas. Diz que a Asgav não é contra as exportações, no entanto, defende que haja uma política que promova o equilíbrio do setor que depende destas commodities para a produção de proteína animal. Considera que seria mais interessante para a economia brasileira transformar o milho e soja em proteína animal e exportá-la com valor agregado, do que simplesmente exportar os grãos in natura.
Da mesma forma, acredita que é necessária uma atuação maior dos órgãos reguladores, como a Conab e o próprio Ministério da Agricultura para que não haja um colapso. Como medidas pontuais de auxílio ao setor neste momento, cita a liberação por parte do Governo Federal da importação de milho e a retirada temporária de PIS/Confins da importação de países que não fazem parte do Mercosul.
Santos destaca que a avicultura gaúcha é um setor altamente produtivo, com qualidade reconhecida, inclusive no mercado externo e que o momento demanda de equilíbrio. Destaca que o RS é o terceiro estado brasileiro que mais exporta, com 35 a 40% da produção destinada a outros países. Ele estima que o avanço da vacinação contra a covid-19 também vai proporcionar uma retomada gradual da economia no Brasil. O pagamento de nova rodada de auxílio emergencial também deve favorecer para fazer a economia girar.
Languiru reduz alojamento
A Cooperativa Languiru está desde março reduzindo o alojamento de aves. Em vídeo compartilhado na sexta-feira, o presidente Dirceu bayer ressaltou a necessidade do programa e de ajustes maiores, com mais produtores envolvidos. “Ele é necessário porque sabemos que o custo está aumentando cada dia, o preço do milho já passa dos R$ 100 a saca e, por isso, não temos outra alternativa a não ser diminuir o alojamento. Aquele número de produtores que vão ter o intervalo de quarenta dias será aumentado. A cooperativa fará apenas um turno de abate”, informou, salientando que um turno de abate representa 75 mil aves abatidas/dia, aproximadamente a metade do volume que passava pelo frigorífico diariamente.
Os produtores que terão intervalos maiores entre os alojamentos serão remunerados pela cooperativa. “A cooperativa Languiru terá uma economia muito grande com essas decisões porque não vislumbramos num curto espaço de tempo uma melhora deste cenário, que continua difícil, com os insumos aumentando e com muita responsabilidade nós tomamos esta decisão. Importante que o associado não será prejudicado. Dificilmente uma empresa privada o faria desta forma. A Cooperativa Languiru o fará”, tranquilizou os associados, dizendo que nenhum produtor será prejudicado.