Contratada há três meses para auxiliar a equipe de enfermagem da Unidade de Saúde de Travesseiro no enfrentamento da pandemia, Lisete Berwanger, 39 anos, desde a infância teve o sonho de trabalhar na área da medicina, porém a situação financeira não a permitiu. Como gostava da área, optou pelo curso de enfermagem e hoje afirma estar realizada com o que faz.
Atuando no que gosta, Lisete percebe que consegue ajudar mais as pessoas de diversas formas na saúde, seja fazendo uma injeção ou simplesmente ouvindo a angústia de um paciente que necessita de atendimentos. “Nosso trabalho pode melhorar o bem-estar das pessoas”.
A rotina de Lisete dentro da enfermagem na Unidade de Saúde é diferente das demais casas de saúde, não se restringindo apenas ao atendimento covid-19, mas em outros setores e funções desde a triagem de pacientes até o encaminhamento de consultas médicas. De acordo com ela, a enfermagem lidera a unidade de saúde e tem papel importante na coordenação das agentes comunitárias.
A enfermeira afirma que o município é muito acolhedor, com uma equipe de saúde participativa, uma população muito receptiva e administração presente nas comunidades o que contribui muito para o trabalho.
A atuação de Lisete na saúde vem desde 2001 quando foi contratada para trabalhar no setor de transportes (ambulância) na secretaria de Saúde de Arroio do Meio, onde também foi auxiliar no setor odontológico. Mais tarde, em 2003, passou em um concurso para agente comunitária de saúde e exerceu o cargo até 2005, mesmo ano em que concluiu a graduação. Logo depois foi realocada para equipe de enfermagem da Unidade Básica Central e por motivos políticos foi desligada do cargo no ano passado, após quase 20 anos de atuação.
Para a enfermeira, a pandemia afetou diretamente o funcionamento das Unidades de Saúde nos municípios, sendo necessário uma reestruturação física, para divisão de atendimentos covid e não covid, além dos cancelamentos de consultas eletivas e vacinas de rotina, para que os atendimentos respiratórios fossem tratados de forma mais imediata.
Em Travesseiro, uma das ferramentas criadas foi o “telessaúde covid”, para que a população tirasse suas dúvidas. A equipe também passou por treinamentos para atender de forma segura todos os pacientes. “A pandemia causou um estresse a todos os envolvidos, aliado à preocupação extrema com algo desconhecido e à incertezas de um cenário melhor. A disseminação rápida exigiu novos protocolos, em praticamente todos os setores, fazendo com que a equipe de saúde se esforçasse ainda mais. Treinamentos para o uso de EPI’s, orientações sobre o uso correto de máscaras e a luta para adquirir insumos e materiais para manter o atendimento à comunidade foram os fatores iniciais no combate”, afirma Lisete.
Muito semelhante aos hospitais, Lisete explica que os municípios tiveram que contratar mais profissionais para a equipe da saúde em função de afastamentos e doenças, muitas vezes psiquiátricas e emocionais. “Muitos colegas trabalhadores da saúde tiveram jornadas de trabalho estendidas, aliadas ao aumento de carga e mais exigências além de outros motivos como a falta de insumos, equipamentos de proteção e superlotação do sistema”, diz.
CUIDADOS COM A FAMÍLIA
Lisete já passou por dois resultados positivos para a covid-19. O medo de adoecer gravemente e transmitir o vírus para a família foi um dos momentos mais difíceis. “A pandemia nos trouxe uma reflexão. Precisamos nos colocar no lugar do outro. Mesmo sendo profissional da saúde, atrás da máscara e do avental branco existe uma pessoa que tem um coração, que tem medos, que tem uma família e amigos e que está se expondo todos os dias por amor e para ajudar a salvar vidas. Nessa hora percebemos que somos iguais, não adianta o dinheiro e posição social. Sim, ainda temos que nos cuidar. Entendo que o povo está cheio de cobranças impostas pelas autoridades mas, para que possamos seguir em frente com segurança, temos que continuar nossa jornada com muitos cuidados”, pensa.