Rafaela Schwertner
Psicóloga CRP 07/34006
O início do ano letivo é sempre um misto de sensações. Turma nova, momento de rever os amigos e colegas, novos professores e, por vezes, até nova escola. A alegria de retornar mistura-se com a ansiedade do novo. Mas, como voltar depois de tantos meses longe? Como sair de casa em meio à pandemia? Como frequentar a escola respeitando o distanciamento e os protocolos de biossegurança?
As perguntas, dúvidas e incertezas atravessam os pensamentos de pais, alunos, professores, gestores e toda a comunidade escolar. Todos os atores estão diante de uma nova realidade com inúmeros desafios que incluem aspectos estruturais e organizacionais, atendendo aos protocolos, e aos aspectos emocionais de todos que estão envolvidos.
José Pacheco, pedagogo de Portugal, tem uma frase na qual diz que “Escola não é um edifício, escola são pessoas”. Um espaço de encontros que se concretiza e se realiza nas relações de aprendizes. É na relação, no diálogo e na comunicação transparente que juntos tornarão o retorno presencial mais leve e seguro.
Para que a relação de ensino-aprendizagem aconteça de forma eficiente é necessário esclarecer as dúvidas, ouvir as inseguranças e compreender que a realidade atual ainda é muito distante do que pais, professores e alunos estavam acostumados a viver. Junto com o sorriso de retorno, vem o medo e as preocupações.
Ouvir, reconhecer e nomear as emoções é uma etapa muito importante na caminhada escolar, inclusive na retomada inicial deste ano letivo. Nomear a emoção exige atenção e observação. Para o psicólogo Daniel Goleman, a inteligência emocional pode ser dividida em cinco habilidades:
1) Autoconsciência: capacidade de reconhecer as próprias emoções.
2) Autorregulação: capacidade de lidar com as próprias emoções, escolhendo respostas e não reagir apenas por impulso.
3) Automotivação: capacidade de se motivar e de se manter motivado, dirigindo as emoções a serviço de um objetivo ou realização pessoal.
4) Empatia: capacidade de compreender e considerar os sentimentos dos outros.
5) Habilidades sociais: conjunto de capacidades envolvidas na interação social, relacionando-se melhor e comunicando-se de maneira clara e atenta às demandas e postura do outro.
Para desenvolver a inteligência emocional, é preciso parar, fechar os olhos, respirar fundo e perguntar a si mesmo: “o que eu estou sentindo?”; observar como meu corpo está reagindo e buscar compreender de onde vem esse sentimento. Em seguida, é necessário acolher essa emoção sem julgamento ou culpa para, posteriormente, falar a respeito delas.
Invalidar ou criticar as emoções expressadas por alguém, tende a interferir de modo negativo no desenvolvimento da regulação emocional, e consequentemente afeta o campo de habilidades sociais do indivíduo. Há estudos científicos que indicam que crianças e adolescentes que desenvolvem sua inteligência emocional, ampliando o repertório de habilidades emocionais, estão menos vulneráveis a transtornos emocionais como depressão e ansiedade, por exemplo, incluindo o uso de álcool e outras drogas.
Legitimar os sentimentos tanto das famílias quanto da equipe escolar exige paciência, entretanto, o exercício de inteligência emocional auxilia na busca de estratégias para lidar com outras questões que forem se apresentando ao longo do ano letivo. Quando a validação dos sentimentos acontece com cuidado e afeto, mesmo que distante fisicamente, a comunidade escolar sente-se mais segura para realizar suas atividades e as famílias mais próximas deste processo.
Além dos esforços da escola, os familiares também têm um papel primordial no desenvolvimento da inteligência emocional. Aqueles que participam da educação de crianças e adolescentes, podem e devem encorajar a expressão das emoções por meio do estímulo ao desenvolvimento de habilidades para a resolução de problemas e busca de ajuda quando necessário, estabelecer regras e limites, ensinando a lidar com a frustração, valorizar as pequenas vitórias e respeitar as diferenças.
Lidar com a realidade é uma etapa fundamental para evitar expectativas irreais. O momento é incerto para todos, e para que possamos atravessar a pandemia e ter uma vida próxima ao antigo “normal”, é necessário um auxílio mútuo e coletivo. Por si só, o contexto gera temor e apreensão, explicar sobre os cuidados essenciais com seriedade, calma e serenidade é primordial para não despertar novos medos e fobias.
Gestores, equipe escolar e família, estão todos à mercê dos números de casos e decretos, ou seja, é preciso investir em soluções que possam atender ao coletivo. Um retorno às escolas de modo saudável, seguro e cheio de afeto é compromisso e responsabilidade de todos os envolvidos.