Preservar objetos que ajudam a contar a história do comércio de Arroio do Meio. Foi com este intuito que Maria Inês Heineck doou ao Museu Público Municipal, na semana passada, 27 volumes de borradores da antiga Casa Comercial Moesch, que pertenceu ao seu avô Waldemar Moesch. O antigo comércio, que nasceu com o nome Werner Moesch & Cia, em dezembro de 1915, em Arroio Grande e, depois, se transferiu para o Centro, foi uma das mais importantes casas comerciais do município no século passado. Nela eram vendidos produtos variados, desde tecidos, máquinas de costura, ferragens, material de construção e tintas, até artigos para presentes. Além disso, se destacava por adquirir produtos coloniais que eram comercializados em Porto Alegre.
O conjunto com os 27 borradores estava na casa dos falecidos pais de Maria Inês – Asella Moesch Heineck e Luís Valmir Heineck – dentro de uma caixa, muito bem preservados. Eles registram o movimento da empresa, com receitas, despesas e valores a receber. O mais antigo é do ano de 1915. Todos foram escritos à mão, alguns com canetas da época e outros a lápis, mas preservam os dados de forma legível.
O material foi coletado pelo município, sob a coordenação do responsável pelo acervo cultural do Museu Público, Sérgio Nunes Lopes. Na Casa do Museu, passará por um longo processo de tratamento, que inclui a estabilização da umidade – fase atual – até a higienização com as técnicas adequadas de todas as páginas, o que levará meses.
Nesta semana, o coordenador e a secretária de Educação e Cultura, Iliete Rockenbach Winck destacavam a importância deste tipo de doação. “Os borradores contam parte da história do comércio de Arroio do Meio, sua conexão com o meio rural, já que eram adquiridos produtos dos agricultores, que depois eram transportados pelo rio Taquari a Porto Alegre”, ressalta Sérgio. “Muita gratidão à Maria Inês e ao apoio da nossa comunidade que doa este tipo material para o acervo do Museu. Mostra a vontade de manter os objetos que possuem relevância histórica para o nosso município”, destaca a secretária.
Um acervo com mais de 11 mil peças cadastradas
A Casa do Museu conta com um acervo de 11.575 peças cadastradas. Cada uma delas envolve uma pesquisa, para que a peça faça sentido e tenha relevância no contexto histórico. À época em que foi efetivada a lei que criou o Museu Público Municipal, em 2013, foi elaborado o Plano Museológico e Museográfico, que avaliou o espaço disponível e o tipo de acervo que seria armazenado.
Também está prevista a figura do “fiel depositário”, que pode ter peças históricas e que sejam incluídas na reserva técnica do museu, mas continuam em seu poder. Em caso de exposições ou pesquisas, os objetos são requeridos e, depois, devolvidos. Desta forma a família não precisa se desfazer de uma peça que tem valor afetivo e, ao mesmo tempo, se fortalece a ligação do museu com a comunidade. “A história não é responsabilidade só do museu, é uma consciência coletiva”, frisa Sérgio.
Para doar objetos, documentos ou fotografias para o acervo da Casa do Museu há um procedimento técnico, conforme está previsto no Plano Museológico e Museográfico. Além das orientações constantes do projeto museológico, há limitação de espaço físico na Reserva Técnica e, por isso, o processo é criterioso. Toda a análise de acervo é feita previamente junto aos potenciais doadores e, só depois dessa avaliação que se procede, se for o caso, o deslocamento do acervo para o espaço adequado da Reserva Técnica.
Embora a Casa do Museu esteja fechada para visitações, o serviço interno continua, especialmente na pesquisa e manutenção do acervo, que inclui controle da umidade, de fungos e insetos. “É a matéria-prima da nossa história, precisamos ter muito cuidado com ela”, destaca o responsável.


