O frio intenso para maio, a alta insolação e a chuva de alto volume beneficiaram as laranjeiras e bergamoteiras. Esse cenário também afastou a mosca das frutas dos pomares. A avaliação é da Gerência de Planejamento da Emater/RS-Ascar, que aponta uma boa safra no Estado, com a previsão de colheita superior a 404,6 toneladas.
No Vale do Taquari, a previsão é de que sejam colhidas 18 mil toneladas de citros, sendo a maior parte de laranjas – cerca de 15 mil toneladas. A safra deverá se desenvolver dentro da normalidade, diferentemente do que ocorreu no ano passado, quando houve redução de cerca de 35% da produção em função da estiagem.
As condições para o desenvolvimento das frutas foram consideradas, até o momento, bastante favoráveis, apesar de ter havido um volume de chuvas abaixo da expectativa em meses como fevereiro e março deste ano.
No Vale do Caí, principal produtora gaúcha das frutas, são esperadas 187 mil toneladas de citros, sendo 122 mil toneladas de bergamota, 53 mil de laranja e 10 mil de limão.
Em Arroio do Meio, de acordo com IBGE, há 40 hectares de laranjas e 25 hectares de bergamota. A maioria está espalhada em diversas propriedades e é voltada para o consumo próprio. O técnico agrônomo da Emater/RS-Ascar, Elias de Marco revela que há apenas dois produtores comerciais: Beatriz Fernandes Kern e Gerson Beschorner. Ambos são de Picada Arroio do Meio e orgânicos. A venda é in natura e direcionada para a merenda escolar. “Não produzimos para nossa demanda. Somos importadores de citrus. Além do Vale do Caí, o Alto Uruguai também se destaca na produção”, revela.
De Marco acrescenta que a altitude e longitude da Região Sul do Brasil, proporcionam uma boa qualidade do ácido cítrico, em média entre 17 e 18 graus Brix de graduação, e consequentemente os segundos melhores sucos do mundo, ficando atrás apenas da Califórnia nos EUA. “Outros locais do mundo adicionam componentes artificiais para atingir 13 de Brix”.
O cultivo e manejo do citrus não é considerado tão complexo, sem necessidade de adubações, por exemplo. “É preciso evitar capinar o solo ao redor das árvores, pois 60% das raízes são superficiais. Isso também mantém a copada baixa, facilita a colheita, podas, o controle de ervas daninhas e doenças”.
Segundo ele, uma árvore começa a produzir frutos após o quarto ano do plantio, com produção normal a partir do 6º ano. O clima e o habitat interferem diretamente na fisiologia das plantas e desenvolvimento dos frutos. Por isso, em períodos de desiquilíbrio climático, é comum ocorrerem oscilações.
Outro destaque, conforme o técnico em agronomia, é que com o passar das décadas, foram as anomalias de frutos de algumas árvores ou galhos, que determinaram as variedades que hoje predominam no mercado. “A comum, que é a mais saborosa, não tem apelo comercial”.
CULTIVO ORGÂNICO EM SISTEMA AGROFLORESTAL
Natural de Estrela, a família de Gelci Marlene Beschorner, 63 anos e Ivo Ignácio, 62 anos, hoje radicada em Picada Arroio do Meio, entrou no segmento de citrus por acaso, após a permuta de um imóvel que possuíam, por uma propriedade de 6,4 hectares em Arroio do Meio.
Já havia um pomar com mais de duas mil árvores de laranja, bergamota e limões, na propriedade, que se estende da estrada geral até a encosta do Morro de Canudos, onde está situada a pedreira de Luis Both. Foram promovidas melhorias em acessibilidade e bem-feitorias. A família, que morava no local, hoje atua na produção de rosas na Rota do Sol.
O sistema agroflorestal foi aperfeiçoado com apoio da Emater/RS-Ascar e consiste num consórcio com outras árvores de copa maior e mais alta, cujas folhas caem no inverno, porém, diminuem o impacto do sol no verão.
No momento, a produção é tocada pelo filho e sucessor, Gerson Henrique, 28 anos, que voltou da Europa, logo após o início da pandemia, e sua namorada Dara Dente. Entre as variedades de laranja, são cultivadas a seleta, doce do céu, umbigo e valência. De bergamota caí, ponkan, montenegrina, do céu, morgote e dancy. De limão, o taiti.
Mais de 95% da produção é direcionada à merenda escolar, cerca de 2,5 mil unidades semanais, agora durante a pandemia, e o dobro, durante o calendário regular de ensino. Como são variedades diferentes, a colheita se estende de março a novembro. Os meses de férias são considerados positivos por Gerson, pois permitem férias prolongadas para visitar amigos no exterior.
A rotina também é bastante flexível em comparação com o gado de leite, chiqueiros ou granjas. “Não exige tanta regularidade mas, às vezes, não temos escolha. Para fechar os pedidos é preciso ir colher na chuva”.
Fora isso são feitas duas roçadas anuais. A retirada de ervas daninhas e podas, não é tão rigorosa e feita apenas quando os excessos incomodam visualmente. Em algumas variedades, quando há frutas demasiamente carregando o pé, é feito o raleio das menores, para as maiores se desenvolverem melhor.
Gerson detalhou que alguns pés enxertados dão frutos já no segundo ano, porém, o recomendado é arrancar as frutas até o terceiro ano, para a planta se desenvolver melhor. O valor por muda gira em torno de R$ 10. O investimentos é relativo em comparação com outras atividades rurais, considerando o tempo necessário para produção.
O jovem projeta a instalação de uma agroindústria de polpas até o fim deste ano, para evitar o desperdício de frutos. Também está em teste, a fabricação de vinho de laranja, que é fermentado por um período superior a oito meses. Os primeiros experimentos foram considerados positivos. “Tomamos tudo. Lembra bastante o vinho do Porto. Mas vamos continuar aprimorando”. No momento, apesar do apelo, a família não tem intenções turísticas.
Para garantir uma boa polinização, também há na propriedade enxames de abelha nativas. Outro destaque vai para o 0% de uso de agrotóxicos e boa procedência dos cultivares, o que garante produtos 100% orgânicos.
Aos poucos, a medida que algumas árvores envelhecem, estão sendo implantadas algumas mudas novas no pomar. “A lenha do citrus é melhor para o churrasco”, observam.
A produção desta temporada é considerada excelente em comparação com os anos anteriores, em que a estiagem acelerou a floração das árvores – um fenômeno natural de sobrevivência – mas trouxe oscilações na produtividade.