O carreteiro Everaldo de Paula Costa, 52 anos, sempre sonhou em ser motorista profissional. Natural de Rodeio Bonito, atuou como agricultor na juventude, mas por influência da avó materna, que morava em Arroio do Meio, procurou prosperidade econômica.
Seu primeiro emprego foi no incubatório da Avipal, atual BRF. Na sequência, foi representante comercial da Garoto no Vale dos Sinos. E, depois, dirigiu a churrascaria do posto Corteletti, no bairro Aimoré. Todas as funções por quatro anos com bastante êxito.
Mas, uma hora o sonho de ser caminhoneiro falou mais alto e ele procurou serviço na Trânsito Brasil de Estrela, onde atuou por 14 anos, se qualificando em cada oportunidade e se dedicando aos desafios da empresa, até se aposentar. “Iniciei dirigindo uma MB 608 e terminei dirigindo uma carreta de 30 metros”.
Além de caminhoneiro, Everaldo foi coordenador de logística da empresa. Nesse período, sempre atuou dentro do RS, próximo ao Vale do Taquari, o que lhe permitiu estar presente e atuante na criação das filhas – uma formada em Direito e outra gerente de padaria.
Há cerca de dois anos, ele não aguentou mais ficar em casa e foi convidado para dirigir pelo Brasil pela Gadi Transportes de Vale Real, que tem uma parceria com a Trânsito do Brasil, o que lhe trouxe uma realização profissional muito grande.
Nas viagens para o Sudeste, o retorno é rápido, praticamente na mesma semana. As para o Nordeste levam em torno de 15 dias. “Quando se dirige pelo Brasil afora, tem uma sensação de paz, tranquilidade e liberdade, que não se tem em rotas curtas, por aqui. Transporto cargas essenciais, de alto valor agregado e perigosas. São Paulo e Rio de Janeiro são os piores locais. O RJ teria que ser um destino extinguido. Ninguém quer ir pra lá. Tem muito roubo de carga e assaltos a caminhoneiros. O primeiro ladrão é policial. As próprias empresas que recebem as cargas cobram estadia para os caminhões ficarem no pátio, sem oferecer opções de higienização. É desumano. Só vamos para lá por obrigação. Em São Paulo, o trânsito é complicado, mas as estradas pedagiadas e rodoanéis são de qualidade. Os pedágios de R$ 90, oferecem uma contrapartida de segurança, socorro rápido e até atendimento odontológico. No nordeste, as estradas são precárias, porque não existe pedágio, mas o povo é simples e acolhedor como aqui no RS. Qualquer R$ 5 ou R$ 10 são bem aceitos para facilitar descargas. No RJ esse valor é considerado moedas. Querem de R$ 50 a R$ 100 pra cima”.
Quando retorna de viagem, a primeira coisa que Everaldo faz é dar um trato no caminhão, com direito a polimento no tanque e pretinho, no pneu, além de uma boa higienização interna. “Deixo brilhando. Tenho o mesmo zelo pelos veículos de uso pessoal. Aliás, um caminhão não perde em nada, na verdade supera qualquer automóvel em termos de conforto e tecnologia. É como uma casa”.
Na estrada, Everaldo faz questão de abastecer em postos credenciados, para ter segurança na hora do sono, e acesso a banho e alimentação de qualidade. “Só começaram a dar valor para o caminhoneiro depois da greve. Mesmo assim, os outros motoristas têm pouca paciência com veículos de carga. Buzinam e fazem gestos obscenos para qualquer conversão mais lenta. Manobrar o cavalinho é uma coisa, uma carreta carregada é diferente. Se entramos na cidade, é porque alguém comprou a mercadoria. Não é porque dirigimos um caminhão de porte grande, limpo e bonito é que estamos passeando […] apesar do risco de acidentes, amo minha profissão e não troco por nenhuma outra. Enquanto puder viajar, vou viajar”.