“Quando começamos, não tínhamos nenhum tijolo”, relembra o casal de bovinocultores leiteiros, Danilo, 66 anos, e Neoli Schwarzer, 65 anos, moradores de Forqueta Baixa, agricultores desde sempre.
Danilo era cotado para ser o sucessor da propriedade do pai. Mas, em decorrência de divergências após quatro anos de parceria, estava decidido a buscar outra alternativa de renda. “Já tinha bastante oportunidade de emprego em Arroio do Meio, e eu gostava da construção civil, quase era um pedreiro. Mas meu pai fez questão de que eu comprasse parte da área da família, ao redor de 3,8 hectares, para continuar na lavoura e por perto. Isso foi há 44 anos. Minha esposa e eu morávamos dentro de um galpão, mas éramos felizes. A primeira fonte de renda foi amansando gado xucro. Não tinha medo. Com isso, conseguimos evoluir na agricultura”, conta o casal, que teve de lidar com a perda da primeira filha de 18 meses de vida, nas vésperas de um Natal, afogada em uma sanga na propriedade. “Ela gostava de nos seguir quando enchíamos o regador, e um dia, entre as lidas, acabou indo por conta. Foi uma fatalidade”.
As dificuldades sempre foram superadas com muito trabalho e possibilitaram o progresso da família e da criação dos dois filhos que vieram na sequência, Marco Aurélio e Cristiane. Com pequenos períodos na produção de grãos e no comércio, nunca deixaram a bovinocultura de lado. Atualmente, contam com uma estrutura moderna, com sala de ordenha, resfriador de última geração e silos trincheira. Participam do programa Leite Saudável da Dália, cooperativa em que estão associados há 42 anos, sendo 16 enquanto delegados. “Sem tecnologia é impossível se manter competitivo e nos padrões de qualidade”.
Recentemente, Danilo incorporou 3,9 hectares de um vizinho e 11 vacas de um produtor do bairro Dom Pedro II, que desistiu da produção integrada. “Sempre temos lotes de novilhas em vista, é necessário para a reposição do plantel. Às vezes se tem sorte, às vezes se tem azar”.
No momento, contam com 68 vacas no plantel, sendo 43 em lactação, com uma média de 27 litros diários por cabeça, com genética própria, totalizando mais de 1,1 mil litros ao dia. Além de três hectares permanentes de pastagens, mantêm estoque de 50 hectares de silagem. Segundo eles, a ração, feno e farelo tiveram uma queda interessante no preço. “Quem não está contente com a produtividade e preços de hoje, tem que procurar outras alternativas”.
O acompanhamento veterinário é feito pela equipe de Daniel Stork. Como a inseminação é sexada, é possível direcionar a recria para novilhas ou para terneiros. “Os bezerros com genética angus são vendidos recém-nascidos por R$ 400”, revela. Danilo também conta com a ajuda do filho Marco Aurélio no trato matinal diário.
Um dos xodós do casal de idosos, durante a pandemia, foi conviver mais com os netos Enzo e Mateus. “É importante ficarem um pouco longe do celular e mais próximo dos bichos”. Apesar da idade superior aos 60, se sentem fortes e com saúde para atuar por mais dez anos. “Fizemos questão de contar apenas com a ajuda da família, mas só quando precisamos”.