A morte de Pelé tem criado incontáveis oportunidades de prestar homenagem a essa figura tão extraordinária que Edson Arantes do Nascimento foi. Segundo levantamento do Correio Brasiliense, oito ruas já levam seu nome. É de imaginar que daqui pra frente as designações se multipliquem. Como se sabe, a legislação da maioria dos municípios não permite batizar lugares com o nome de pessoas vivas.
Não que as homenagens recebidas em vida tenham sido escassas. Três Corações, a cidade natal, por exemplo, sempre prestigiou o filho ilustre. A casa onde Pelé nasceu foi reconstruída no terreno original e está aberta à visitação. Na cidade há também o Museu Terra do Rei, que mostra a história e a carreira do atleta. Além disso, ele dá nome a uma rua, a uma praça e ao ginásio poliesportivo municipal. Duas estátuas em tamanho natural completam a homenagem. De outra parte, a cidade de Santos, onde a carreira se desenvolveu, há tempo vem sendo generosa com ele. A homenagem mais saliente se dá na forma do Museu Pelé, um complexo com mais de quatro mil metros quadrados que tem todas as qualidades de um museu moderno e dinâmico.
Dá para mencionar ainda que, desde 1970, Pelé já emprestava seu nome a um estádio. O popular Trapichão, localizado em Maceió, cujo nome oficial é Estádio Rei Pelé.
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Prestar atenção na designação dos espaços púbicos e nos monumentos colocados nas ruas é importante.
O título desta coluna diz que as estátuas falam. Evidentemente, se trata de uma figura de linguagem. Mas o fato é que a simples existência delas mostra quais são as pessoas e os atos que uma comunidade valoriza. Elas ajudam a contar a história local. Funcionam como uma forma de seleção do conteúdo que será ensinado para as novas gerações. Os monumentos proclamam quais são os exemplos que devem ser imitados.
Estou falando destas coisas, para sugerir que a gente faça uma pergunta.
A pergunta é a seguinte: nossos monumentos e os nomes dos logradouros públicos dão uma imagem apropriada da vida da comunidade? Ou, pelo contrário, eles divulgam uma visão distorcida e incompleta? Haverá a preocupação de destacar todos aqueles que contribuem positivamente para o bem comum?
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Nos Estados Unidos foi feito um levantamento dos mais de 50 mil monumentos existentes no país. A conclusão é que a vasta maioria deles homenageia homens brancos e ricos. Não só isso, celebra homens brancos e ricos pelo que eles fizeram em guerras.
Os negros e os índios são homenageados em 10% das situações. As mulheres, em 6% do total.
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Se nós fizéssemos uma pesquisa semelhante no Brasil, qual você acha que seria o resultado?
Colunista: Ivete Kist