Anos atrás fazia sucesso na TV um quadro humorístico chamado “Primo rico, primo pobre”. Contracenavam ali dois personagens: um era cheio da grana, bem vestido, morava bem, tinha empregados e o outro passava fome. O pobre vinha pedir comida e nunca levava. O rico dava um jeito de despistá-lo e ainda aproveitava para ostentar a vida boa.
Pois o caso me voltou à cabeça recentemente. Acontece que fui passar uns dias de férias em São Paulo. Não, nada de praia ou serra. Fui para a cidade mesmo, essa que tem mais de 12 milhões de habitantes e é o centro econômico e financeiro da América Latina.
Em São Paulo, eu tinha como objetivo fazer, digamos, uma atualização cultural: visitar museus e exposições, caminhar na rua, andar de metrô, participar um pouco da vida da cidade e foi o que fiz. A experiência rendeu pano pra muita manga.
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Nem preciso dizer que os museus de São Paulo são numerosos e refletem bem a pujança econômica do estado. Não passam vergonha, quando comparados a outras grandes instituições do mundo. Bom, mas queria contar que encontrei lá várias exposições temáticas. Exposições temáticas são mostras organizadas em torno de um assunto. Funcionam assim: o museu seleciona diferentes peças do seu acervo e as apresenta de modo a desenvolver o tema escolhido. As obras são acompanhadas de textos explicativos, para ajudar o visitante a entender melhor.
Não por acaso, o tema da inclusão passou a dominar. Atualmente, os índios e os negros vêm ganhando destaque – ao menos nos museus. Acontece que o Brasil andou durante séculos se comportando, na vida real, como faziam na TV o primo rico e o primo pobre. Era como aquelas famílias que só dão bola para os parentes da alta e viram a cara para os outros. Nos últimos anos, nosso país começa a agir diferente.
Isso! Nos últimos anos viemos reconhecendo que podemos operar como a família que, em vez de só convidar alguns para as festas, convida todos. O Brasil – como família – está compreendendo que as festas serão melhores com a parentada toda. Por isso, começa a chamar para a cena quem sempre foi escanteado.
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O Museu da Língua Portuguesa é um bom exemplo do esforço para mostrar as diferentes contribuições presentes na nossa fala. Abrigado num lindo prédio do ano de 1867, informa que a língua do Brasil conta hoje com cerca de 500 mil palavras. Ensina que a língua é um tesouro que nós herdamos, construímos e compartilhamos. Ao longo dos séculos foi sendo enriquecida pelos falares africanos, pelas línguas indígenas e por todos os grupos que chegaram aqui. O Museu da Língua Portuguesa presta reconhecimento a quem ajudou a formar a nossa língua.
Em resumo, a coisa é bem simples: uma língua viva não para de incorporar palavras novas. Se não reconhece contribuições importantes (no caso do Brasil: a contribuição dos negros e dos índios) age como o primo rico que bota pra correr o parente mal de vida. E nem repara como é vergonhoso não reconhecer a dívida que tem com o primo pobre.