Os quarenta anos que seguiram o final da II Guerra Mundial marcaram o apogeu da imprensa no mundo. No Brasil, também. Esse período sinaliza o auge da popularidade dos jornais e das revistas.
Depois disso a TV ganhou relevo como meio para saber das notícias e como entretenimento. Na sequência, a internet foi atraindo o público, a ponto de chegar à liderança, que se verifica agora.
Mas quero fixar a atenção no período de ouro dos jornais e das revistas. Esse período popularizou a figura do cronista. No Brasil, os cronistas conquistaram a simpatia geral. Os melhores eram disputados a tapa pelos grandes meios de comunicação.
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Cronista é o escritor do texto curto, cujo tema são os acontecimentos da hora, em todos os campos da vida. A particularidade é o modo como os textos são apresentados. Eles carregam no toque pessoal. Os melhores autores não sonegam suas emoções. Dão palpite sobre tudo e todos com o uso de uma linguagem caprichada e atraente. Os melhores cronistas brasileiros nos deixaram páginas imortais. São ases da coloquialidade, gostam de lidar com o humor, atiçam paixões futebolísticas, mexem com os figurões – tudo com fina inteligência.
O Brasil produziu extraordinários cronistas entre os anos 50 e 70 do século passado. Há nomes insuperáveis, como Rubem Braga, Otto Lara Resende, Pedro Nava, Fernando Sabino e Antônio Maria Araújo de Morais – este último, o tal “homem chamado Maria”.
Se me forçassem a escolher o melhor dentre os melhores cronistas, eu acho que daria a palma de ouro para Antônio Maria. Maria escrevia de um modo lindo, lindo, lindo.
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Antônio Maria nasceu no Recife, em 1921. Vinha de uma família de grandes usineiros que perderam tudo. Tendo de ganhar a vida, Antônio Maria começou a trabalhar cedo. Aos 19 anos já escrevia e escreveu até morrer de um ataque do coração, aos 43 anos. Ainda jovem, Antônio Maria se mudou para o Rio de Janeiro e não tardou a ser publicado pelos mais importantes jornais. Também atuou em rádio e TV e compôs música em parceria com outros nomes famosos. É autor, por exemplo, de “Manhã de Carnaval” e “Ninguém me ama”.
Antônio Maria escreveu milhares de textos que só foram reunidos em livro depois de sua morte. Batia à máquina com dois dedos, furiosamente. É que estava sempre endividado, gostava da boemia e dedicava muito tempo aos amigos e aos amores. Antônio Maria era um sedutor. Seduziu até a esposa do dono do jornal para o qual escrevia. Ninguém menos do que Danusa Leão – o grande amor da sua vida. Quando Danusa deixou ele, literalmente, morreu de amor.
Vou copiar um pequeno trecho, da crônica “Café com leite”:
“No mais, tudo é menor. O socialismo, a astrofísica, a especulação imobiliária, a ioga, todo ascetismo da ioga… tudo é menor. O homem só tem duas missões importantes: amar e escrever à máquina. Escrever com dois dedos e amar com a vida inteira.”