Cá estou eu abraçado ao iniciante setembro, torcendo para que alguma boa notícia afronte a sofrida rotina pela sobrevivência. Os últimos dias registraram tristes assassinatos de crianças e outros crimes hediondos. Enquanto escrevo esse artigo, atendo o celular e uma voz simpática me garante um cartão de crédito pré-aprovado. E com direito a empréstimo, desde que eu lhe informe senhas e outros “detalhes”. É claro, mandei o golpista passear em outro inferno, me deixar em paz, aqui neste purgatório terreno.
Em seguida retomei a rotina, assim, igual a de tantos outros. Muitos, escravos de sua própria rede social, de conceitos digitais raramente aplicáveis à vida real. A marginalidade ronda, ocupa todos os espaços possíveis. Usam de tudo, religião, dinheiro fácil em duvidosas vantagens financeiras a trabalhadores feito eu. Um pouco mais de ética e conhecimento está nos faltando.
Vivemos em um Brasil com ares de modernidade, terceira nação que mais consome o mundo virtual. São 130 milhões de cidadãos nos aplicativos enquanto a bandidagem nos rende nas esquinas. Tenho a sensação que nos isolamos entre postagens bacanas e fantasiosas no WhatsApp, Instagram e Facebook, entre outros.
Somos nossos próprios diretores de arte em fotos ou pautas prontas. Os temas aparentemente difíceis, ganham soluções fáceis. Mas qual é a nossa efetiva postura no combate a esses crimes não virtuais? Mais educação e menos games de celular? Quem sabe não teríamos respostas ponderadas ao que nos atordoa. Por enquanto, filtro tudo o que ouço ou leio. E não bebo para esquecer.
Quando vejo a juventude a levantar símbolos de ódio me parece que tudo é apenas uma repetição enfadonha do passado. Lições não aprendidas levam aos mesmos protestos de antes, discursos alinhados em ideologias que pouco ou nenhum benefício trouxeram.
Não quero deixar a existência como aquele sujeito perdido na descrença. As crianças continuarão – muitas delas – como vítimas nesses vácuos de satisfação instantânea. A próxima fase do jogo pode ser a última, sem direito a vida extra. Isso vale para qualquer um, seja nascido em berço esplêndido ou na mais profunda miséria.
Temos pouco mais de cem dias antes do período natalino. E até lá, mesmo com todo filme água com açúcar, toda campanha publicitária, compaixão continuará uma virtude de fracos, caso não façamos nada efetivamente verdadeiro.
Tudo pode ser melhor, mais equilibrado, desde que aceitemos a palavra desenvolvimento, como a evolução do que preservamos e nos permite crescer como um todo, respeitando singelos, mas definitivos princípios éticos. A guerra não é apenas entre Rússia e Ucrânia, ou entre facções do tráfico. Envolve cada um de nós, sobreviventes destes absurdos cotidianos.
Educação não é nada, sem apego à condição humana em sua essência, aos princípios básicos de tolerância às semelhanças e dissemelhanças. Nunca, em nenhum momento, perder o senso crítico que cimenta o verdadeiro conhecimento e vai muito além das redes sociais, dos acordos embriagados de botecos, ou das altas cúpulas do poder que sacia sua fome, nas incertezas de gerações contraditórias e egoístas. Paz e amor? Alguém aí, por favor, dê uma sacudida no menestrel do óbvio.